Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A culpa é…

O nosso maior craque foi e está perdido. Diante de tamanha humilhação, o que resta é achar alguém para pôr a culpa. O joelho do Zuñiga, que destruiu o ossinho da coluna do Neymar; a Dilma, que não comprou a Copa; ora, Felipão, que não montou o seu time como foi sugerido pelos mais de 200 milhões de brasileiros. Ele tinha, aliás, que ouvir a todos eles de uma só vez, atendê-los igual a Deus atende todas as nossas vontades.

Diante de uma Copa no Brasil nada brasileira, o que nos resta é lamentar o incidente, que será gasto e regasto durante toda a semana (e alguns dias mais). Ninguém pensa, agora, em toda a construção do time, pensa que se Neymar tivesse em campo tudo seria diferente. De fato, ou ele impediria os sete gols sozinho, ou ele os faria sem precisar da ajuda de ninguém.

O que vemos é mais um dos espetáculos da mídia. A mesma mídia que, horas antes, engrandecia o poder e a técnica do técnico, agora afirma que ele errou. Não, eles não tiveram nenhuma parte nisso, lógico. Não expuseram a foto de “nosso maior craque” uma, outra e outra vez até que nos cansássemos, e ainda assim uma vez mais. “Perdemos o maior craque”, diziam. Aprendemos a não valorizar todos os outros. Dizíamos, mesmo que contra a vontade, que a Copa iria ser ganha “pelo”, “por” e “para” o Neymar. Ninguém mais importava.

O que a mídia faz com o emocional

“Fred não joga”. “Thiago Silva chora demais”. “David Luiz tem os cabelos cacheados. Marcelo, Dante e Wiliam também têm cabelos grandes”. “Hulk parece um dos super heróis da Matel”. “Ramires, ou Hernanes, ou Oscar, ou Bernard, ou Wiliam, ou quem quer que seja, será capaz de substituir ‘o maior craque desta geração’?” “Não temos meio de campo”. “Felipão é um grande técnico, mas errou no dia de hoje”.

O que nos resta é ver e rever o “massacre”, a “catástrofe”, a “humilhante derrota” por uma e outra, e outra vez, até cansar, sem que o cansaço determine o fim de ver uma e outra, e mais uma vez. “O que aconteceu?”. Afinal de contas, não houve mais nada durante o jogo do Brasil. Chuva não caiu, ladrão não roubou, crime não aconteceu. Feriado. Trabalho em meio expediente.

A culpa, se é que se pode pôr culpa em alguém, é do gasto e regasto que se deu em torno da lesão de Neymar, e de toda a atmosfera que cercou a copa e a seleção brasileira. Mais uma vez, um grande exemplo do que o Quarto Poder é capaz de fazer com o emocional, hoje de 22 jogadores afunilados para nos representar em um campeonato.

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Elisa Bastos Araujo é jornalista