Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As lições da derrota

A blitzkrieg do futebol alemão liquidou a seleção brasileira sem pestanejar. Mais que isso, fez o brasileiro acordar do sonho do hexa. Enquanto procura identificar os culpados pela derrota, a imprensa nacional perde a oportunidade de fazer a mea-culpa.

De olho na publicidade advinda da Copa, nossos veículos de comunicação sustentaram a grande farsa. Cronistas, comentarista e locutores esportivos esconderam do público uma grande verdade: há muito tempo o nosso futebol já não era o mesmo. Mais que isso, há muitos anos o esporte bretão foi convertido em grande negócio, no qual só ganham os cartolas e os poucos jogadores que conseguem alcançar o topo da carreira.

Espera-se que a vergonhosa derrota de 7 x 1 sirva de lição. Que a imprensa e os governantes não mais utilizem o esporte como ópio – na base do pão e circo –, escondendo com ele os grandes dilemas nacionais. Mais que isso, que realmente se combata a corrupção, inclusive aquela que permitiu o superfaturamento na construção das arenas esportivas padrão Fifa.

Provavelmente, muitos daqueles que lotaram os estádios nas últimas semanas saíram às ruas no ano passado protestando contra a corrupção política e contestando a Copa das Confederações. Como profetizou um dos dirigentes da Fifaàs vésperas da Copa do Mundo, foi só a bola rolar no gramado para que se fizesse uma trégua.

O exemplo alemão

O bom da derrota é que ela costuma ensinar mais que a vitória. Ninguém pode negar a arrogância do futebol brasileiro, cujos torcedores chegam ao desplante de vaiar o hino nacional de uma seleção rival. A controvérsia é que essa mesma torcida vaiou a Fifae a presidenta da República, embora tenha lotado as arenas na festa organizada por elas.

Como disse minha filha, antes de ser campeã nos esportes a Alemanha se fez campeã na educação, na saúde, na cultura, na segurança, na consciência social de cidadãos que cumprem deveres e exigem direitos na mesma medida. Também, pudera! A Alemanha foi devastada por duas guerras mundiais, tendo que pagar ao mundo pelos prejuízos. Mais que isso, a pátria de Goethe se viu dividida pelo muro da vergonha construído pelas nações que ocuparam seu território. O tempo passou e os alemães provaram o quanto uma derrota pode ser pedagógica. Diante da crise capitalista que causou sérias dificuldades na Europa, a Alemanha reunificada foi um dos poucos países que souberam evitar o caos econômico.

Oxalá o Brasil consiga de fato aprender com a tragédia de terça-feira, 8/7. Que possamos seguir o exemplo alemão, resolvendo de uma vez por todas os grandes problemas nacionais e exigindo dos políticos o devido respeito aos cidadãos. Que a lição da derrota esportiva se reverta numa grande vitória da consciência nacional nas urnas que temos pela frente.

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Jorge Fernando dos Santos é jornalista e escritor