Sempre que Brasil fracassa numa Copa do Mundo, saindo da competição em qualquer fase, surge a pergunta: por que perdemos? Em geral, a resposta é "faltou renovação". Foi assim em 1966, na Inglaterra, quando a seleção foi formada com base nos velhos campeões mundiais de 1958 e 1962, muitos experientes, mas já em fim de carreira.
Foi assim também em 1974, na Copa da Alemanha, quando já não jogavam mais Pelé, Tostão, Gérson e Carlos Alberto, campeões do tri em 1970, mas ainda havia Jairzinho, Rivelino, Paulo Cesar Caju, Zé Maria e outros.
Em 1998, muita gente também atribuiu a derrota na França à falta de renovação, embora o sonho tenha desmoronado num até hoje pouco explicado jogo, aquele do Saint Denis, na derrota de 3 a 0 para a França.
Nem sempre, porém, as derrotas se dão por falta de renovação. Às vezes até ocorrem por ansiedade na renovação. Até hoje muitos acreditam que Romário não deveria ter sido cortado da seleção, já na França, e que poderia se recuperar da contusão muscular para jogar, pelo menos, a fatídica final de 12 de julho de 1998. Em nome da renovação, Zagalo e Zico, respectivamente técnico e auxiliar técnico da seleção naquela Copa, teriam se precipitado ao cortar Romário, que na época tinha 32 anos.
Desta vez, porém, não se pode nem de longe atribuir a derrota, que culminou com o desastre de ontem no Mineirão, à falta de renovação de jogadores. Poucos dos convocados estiveram na campanha de 2010 e não há nenhum remanescente da conquista de 2002. Será que Robinho e Ronaldinho não poderiam estar nesse grupo? Alguns convocados foram muito criticados, como é o caso do atacante Fred, mas, em sã consciência, quando desafiados, os críticos em geral não conseguiam indicar um nome à altura para substituí-lo na função de homem de área. Seria preciso mudar o esquema.
Falta, portanto, renovação tática na seleção. Para tristeza geral dos torcedores acostumados com o futebol arte, mesmo que viesse a ganhar a Copa, a seleção campeã de Luiz Felipe Scolari jamais seria lembrada pela qualidade técnica e tática. Seria e será lembrada pela força física e pela garra.
O contrário
Que me desculpem os fãs de Felipão – ele é um bravo brasileiro e foi o principal responsável pela conquista de 2002 -, mas certamente teríamos melhor sorte se a seleção brasileira fosse treinada pelo técnico argentino da seleção chilena, Jorge Sampaoli.
Talvez seja a hora de admitir que o futebol brasileiro precisa de um pouco de humildade em matéria de tática e técnica, o que implica aceitar a contratação de profissionais estrangeiros, como já ocorreu no passado e como fez agora o Palmeiras ao chamar o argentino Ricardo Gareca.
A Copa ainda não terminou, mas ela já pode ser considerada incomparável. Dentro de campo, tivemos jogos memoráveis, cheios de emoção. A maior delas e a mais surpreendente foi a de ontem em Belo Horizonte, quando a seleção sofreu a mais humilhante derrota de sua história.
Deu zebra. O país esperava ganhar o hexacampeonato em campo e temia pelo caos na organização do evento. Aconteceu o contrário: um vexame em campo e um sucesso na organização.
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Pedro Cafardo, do Valor Econômico