Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O valor da canarinho

É uma covardia atribuir toda a responsabilidade pela derrota a Scolari. No Brasil, cobra-se muito resultado em muito pouco tempo.

O grande problema do nosso futebol, de uns anos pra cá, tornou-se a debandada de jogadores para o exterior. O atleta nem bem se forma em seu clube e já vai jogar fora do país. E cada vez mais cedo. Não são poucos os exemplos: Cícero, Rafael Sóbis, Wellington Nem, Frederico Rodrigues Santos. Este último saiu do Internacional e teria plenas condições de estar nesta Copa. Muitos bons jogadores surgem e o clube não consegue segurá-los, terminar sua formação.

A responsabilidade num Mundial não pode cair sobre um jogador apenas. Só um acima da média, Neymar, é muito pouco em relação às outras conquistas que tivemos. Jogadores com 28, 29, 30 anos como Robinho, Kaká e Diego poderiam estar nesta Copa. Não era competição para jovens como William, Oscar, Bernard e Fernandinho decidirem. Estes são jogadores para serem trabalhados para 2018.

Paremos já de despejar toda a culpa, até pelo fator emocional, no treinador da equipe, Luiz Felipe Scolari. É uma covardia atribuir toda a responsabilidade pela derrota a ele, com tantos títulos conquistados. Joachim Löw está em seu oitavo ano como treinador da seleção alemã e, pela primeira vez, disputará um título mundial. Nós temos sangue latino e esse DNA aflora com muita adrenalina, para o bem e para o mal.

Um resultado humilhante e irracional

A pressão para ganhar dentro de casa foi um peso enorme para os jogadores. O título da Copa das Confederações causou ansiedade e euforia no povo. É fantástico jogar uma Copa em seu próprio país e se emocionar depois do hino. Não é possível ficar indiferente. Mas não havia um Gérson, um Sócrates nesse time, um jogador com mais experiência apto a jogar e transmitir serenidade aos demais.

A derrota para a Alemanha nos marcou e humilhou, claro, mas não podemos achar que está tudo errado, como se diz por aí. Temos cinco títulos mundiais sem nunca ter precisado copiar nada de ninguém. Nossa camisa tem peso. Não é bom a sociedade depositar tanta expectativa no futebol. Temos que vê-lo apenas como esporte e lazer. Lamentavelmente, virou negócio até para as organizadas. O futebol tem que ser administrado de forma profissional, porque tem uma TV forte por trás e patrocinadores.

As mudanças no futebol brasileiro estão sendo pedidas desde a Copa de 2006, passando por 2010, mas de maneira diferente da que se pede hoje. Em ambas as Copas, devido às derrotas, o que se pedia era para o futebol brasileiro resgatar seu estilo de jogo. Algo que os alemães, de certa forma, fizeram.

O resultado foi humilhante e irracional, e isso fez a emoção engavetar a razão. A Alemanha se prepararam para derrotar o Brasil, estudou o time por muitos anos. A liga alemã é a mais forte do mundo, e quase não há estrangeiro por lá. Sete titulares da seleção alemã jogam na Alemanha e apenas um titular da seleção brasileira joga no Brasil, Fred.

No Brasil, cobra-se muito resultado em muito pouco tempo. Mas como, com tantos meninos deixando o país antes dos 20 anos?

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Abel Braga é técnico do Sport Club Internacional