Passamos quatro anos lendo e ouvindo na imprensa os problemas que teríamos para realizar a Copa do Mundo no Brasil. A campanha abalou desde a confiança na Seleção e chegou aos confins do terrorismo noticiário, onde a Veja decretou que só teríamos os estádios em 2038. A mídia aberta teve papel fundamental nessa campanha. A Globo não lançou campanha com bichinhos para camisas, como fez quando o evento foi na África do Sul. A Band se dividia entre criticar os problemas e rezar pela concessão da Vênus Platinada para poder exibir as partidas também. O “imagina na Copa” virou bordão em programas de televisão e nas redes sociais. Mas a Copa das Confederações em 2013 minimizou o pessimismo.
A Copa serviu para mostrar ao mundo o poder de mobilização do brasileiro, começando pelo protesto dos 20 centavos no transporte público paulistano e passando ao radicalismo idiotizado dos pedidos da volta da ditadura militar. Anarquistas e black blocs atacavam símbolos do capitalismo, como bancos e lojas de carros de luxo, para protestar contra o “regime comunista” do governo brasileiro. Vai entender…
Arnaldo Jabor sentenciou na CBN: a Copa do Mundo vai revelar ao mundo a nossa incompetência. Pânico nas estruturas. Ronaldo Nazário disse ter vergonha do Brasil. Um site importante lançou a nota sobre uma “possível sondagem da Fifa para os EUA sediarem a Copa caso o Brasil não tivesse condições”; obviamente, a fonte de tamanha informação mentirosa foi escondida. Dirigentes da Fifa, que não quiseram se identificar, teriam dito que o Brasil não estava pronto e passaríamos vergonha. Esse é um tipo de imprensa terrorista nacional. Instiga o medo nos leitores, sem precisar provar nada, e depois finge que nada aconteceu.
Mas a bola rolou. Num Itaquerão feito às pressas, ainda com pendências, sem os testes devidos. E rolou. Marcelo fez o primeiro gol da Copa, contra. Lamentável. Nas arquibancadas, xingamentos à presidente do Brasil para o mundo ver. Se não mostramos incompetência, como queria o Jabor, a falta de educação ficou explícita. No fim, deu Brasil.
A pior derrota da história
Na Fonte Nova, a Holanda humilhava os atuais campeões mundiais e praticamente despachava a Espanha. A Alemanha despenteou os cabelos de Cristiano Ronaldo, que só conseguiu vencer a luta contra a caspa. O Brasil passava adiante, aos trancos e barrancos. A Itália e a Inglaterra voltavam para a Europa. A Costa Rica surpreendia o mundo. A Colômbia e o artilheiro da Copa também. Irã e Bósnia foi um jogo emocionante, acreditem. Obama cantando We Will Win para o seu time de soccer. Suárez mordendo o italiano. Que Copa!
A imprensa mundial já considerava a Copa no Brasil como a melhor de todos os tempos. As notícias ruins de antes, da imprensa nacional que estimulava as críticas lá de fora, cessaram. Em pesquisa da BBC, os números apontavam nossa Copa como a melhor de todas. O Jornal Nacional já ria da mudança de atitude da imprensa internacional, como se no Brasil não houvesse pessimismo midiático. A imprensa “virou-a-folha” com o rolar da bola, e como isso foi bom e importante para o sucesso do evento.
No fim, a nossa Seleção foi humilhada pela Alemanha na pior derrota da história. O intragável 7×1 foi seguido por mais 3 da Holanda. A Argentina teve vida fácil, até vencer os holandeses nos pênaltis e sofrer com um golaço de Götze, no finzinho do segundo tempo da prorrogação. Alemanha Tetra Campeã Mundial, batendo um sul-americano nas Américas para quebrar de vez esse tabu. Enfim, perdemos e ganhamos.
Perdemos a Taça, ganhamos a Copa
Ganhamos jogos fantásticos, estádios lotados, fan fests bem organizadas, turistas satisfeitos, novos estádios, reformas em aeroportos. O metrô da Bahia, após 12 absurdos anos de desvios e projetos mal feitos, andou (ainda em fase de teste, mas andou). Ganhamos notoriedade internacional, respeito para organização de eventos grandiosos e ganhamos de volta o título de povo hospitaleiro. Ganhamos a Copa.
Perdemos em campo de forma vexatória, nos desvios de verbas que deverão ser apontados e investigados pelos Ministérios Públicos competentes, na construção de estádios onde não há uma competição de futebol forte e algumas obras que não foram pra frente. Mas o balanço foi bastante positivo.
Parabéns à Alemanha, campeã indiscutível. Parabéns ao Brasil. Mesmo sem o hexa, a pátria deu um show, no lugar das chuteiras. E se foi tão bom na Copa, imagina nas Olimpíadas…
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Erick da Silva Cerqueira é publicitário, Salvador, BA