Herdei do pai a qualidade de abraçar causas perdidas, canoas furadas. Daí que concordo com três companheiros de ofício. Tostão, com sua experiência de craque consumado, declara que a Copa foi espetacular, inesquecível. Precisei ir ao dicionário para saber o que era “esdrúxulo”, palavra com que meu mestre e amigo Luis Fernando Verissimo classificou vários atos e fatos da mesma Copa. Juca Kfouri fez uma observação inteligente. Os prognósticos da maioria dos entendidos eram que a histórica bagunça nacional daria um vexame internacional na organização geral do evento, embora brilhasse no gramado. Foi exatamente o contrário. Tudo correu maravilhosamente, alegria, cordialidade, aviões mais ou menos nos horários, nenhum desastre vergonhoso, a própria violência estrutural das nossas ruas, se não acabou, pelo menos diminuiu sensivelmente.
Os mesmos entendidos louvaram – uns mais, outros menos – a nossa presença nos gramados, mas criticaram a seleção, crucificaram Felipão, Fred e a comissão técnica. A logística, com as inevitáveis falhas pontuais, está sendo elogiada. O maior, e quase único vexame que escandalizou o mundo e envergonhou todos nós, brasileiros, até a quinta geração, foi dado no Mineirão (7 a 1). Em campo, nossa atuação foi lamentável, igual à de um clássico da terceira divisão, entre o Manufatura e os Ferroviários.
Pior foi o show de encerramento, o figurino cafona de Ivete Sangalo e a crista de galo de briga do Carlinhos Brown numa rinha clandestina do antigo zoológico. Uma palavra sobre Fred. Herói e artilheiro da Copa das Confederações no ano passado, virou saco de pancada na mídia e no Twitter. Não saía da área do adversário, cumprindo ordem tática do Felipão, dando a impressão de que não se movimentava em campo.
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Carlos Heitor Cony é colunista da Folha de S.Paulo