Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O silenciamento dos candidatos minoritários

Relegados pela imprensa a uma função secundária e meramente burocrática de ocupar espaço “democrático” durante o ano eleitoral, dando aos meios de comunicação a opção de mostrarem aos leitores uma fachada de imparcialidade, os candidatos “nanicos” seguem ignorados pela mídia nas eleições de 2014. A disputa para a Presidência da República possui 11 candidatos, mas apenas três – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) – têm destaque nas pautas midiáticas. Os três são justamente os candidatos que figuram com chances reais de se elegerem, segundo as pesquisas de intenção de votos divulgadas até agora. E os outros oito postulantes ao cargo de presidente da República?

Candidatos a presidente como Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Levy Fidelix (PRTB), Eymael (PSDC), Zé Maria (PSTU), Mauro Iasi (PCB), e Rui Costa Pimenta (PCO) não são sequer citados com algum destaque nos jornais de grande circulação, como Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo ou O Globo e nas revistas de circulação nacional, como Veja, Época e IstoÉ. Esses veículos silenciam em suas vitrines dos assuntos mais importantes do dia e da semana, as propostas e críticas formuladas pelos candidatos “nanicos”, fortalecendo assim o ciclo de exclusão ao leitor de ideias diversas da polarização entre PT e PSDB. Enquanto candidatos que figuram nos primeiros lugares nas pesquisas de intenção de votos são retratados em eventos públicos, em imagens ao lado de filiados e potenciais eleitores, as fotografias dos “nanicos” apresentam candidatos isolados tanto em apoios políticos como em quantidade de eleitores dispostos a votar neles.

Mais do que informar sobre os fatos, os meios de comunicação são porta-vozes de posições sociais heterogêneas e em conflitos constantes pela atenção do leitor. A mídia contribui na construção do mundo político, reafirmando assim sua importância como agente estruturante do agendamento da política e esfera de visibilidade nas eleições. Os sentidos localizados em imagens fotográficas, caricaturas, reportagens e matérias vão além da superfície linguística, sendo resultado de uma fusão de elementos que têm como denominador comum um contexto sócio-histórico específico.

Convite ao convencimento

Dar espaço a um personagem político não significa necessariamente concordar com ele, já que numa mesma matéria podem ser observadas vozes que ora desafinam do que é defendido nas mensagens de seus sujeitos políticos, ora buscam, pelo contrário, compartilhar de uma mesma ideologia defendida pelos meios de comunicação. Quando a grande mídia não cala e permite espaço aos minoritários, esses são ironizados e têm seus discursos questionados de maneira implícita, desfavorecendo-os ainda mais neste cenário midiático que se interliga com o contexto político.

Para meios de comunicação, os candidatos minoritários só existem quando subscritos dentro do universo da própria empresa, ou seja, são dignos de divulgação de atividades eleitorais geralmente quando concedem entrevistas aos meios de comunicação e participam de debates cuja cobertura é patrocinada por um determinado conglomerado midiático. A mídia brasileira usa mecanismos recorrentes ao longo do pleito eleitoral para instaurar as relações de poder de um veículo com o outro e, paralelamente, com os leitores. O silenciamento de temas e personagens políticos, a confrontação das vozes de candidatos dentro de uma matéria ou artigo, com a utilização da ironia e negação, e a construção imagética dos sujeitos políticos visando valorizá-los ou preservá-los permite que a mídia mantenha seu espaço de poder falar para o leitor e, principalmente, narrar uma história que os convide ao convencimento.

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Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa é jornalista política e mestre em Comunicação