A internet promove uma revolução na comunicação humana e, por isso, é tratada com assombro e reverência tais que suas falhas, das mais perdoáveis às mais grotescas, são ignoradas com total ingenuidade.
Muita gente se considera “burra” por não saber mexer em computador, mas não questiona por que um computador, produto tecnológico cem anos mais recente, não consegue ser tão simples de operar como um automóvel, que qualquer palerma dirige com perfeita maestria.
Duas manifestações recentes podem fazer críticos das insuficiências do mundo digital rir, ou mesmo gargalhar. A primeira saiu no Estado de S.Paulo na segunda-feira (18/8), no caderno de Economia: “Homem que inventou pop-ups pede desculpas à internet”.
Em princípio não é necessário acrescentar nada ao título. Mas cabem duas informações complementares. A primeira não está na reportagem: demorou. Ethan Zuckerman, programador do MIT, deveria ter manifestado seu constrangimento há muito tempo. Possivelmente dias depois de constatar a caca que havia feito.
Banner e sexo anal
A segunda está na matéria. Explica por que surgiram os pop-ups e ilustra esplendidamente o discurso sobre consequências não previstas de novas técnicas, tecnologias, descobertas científicas, etc.: os pop-ups…
“…foram o jeito que encontramos de associar uma propaganda com a página de um usuário, sem necessariamente colocar o anúncio na página. (…) Criamos esse tipo de abordagem quando uma montadora de automóveis ficou maluca por ter percebido que havia adquirido, sem perceber, um espaço publicitário com um banner em um site que celebrava o sexo anal.”
Típica malandragem, colocar castanhas no fogo com mão de gato. Quem tomou na tarraqueta foi a internet inteira – hoje, bilhões de usuários.
YouTube’s business model
Tem alguma coisa mais irritante, arrogante, agressiva do que o anúncio que se apresenta no YouTube sem ter sido convidado?
Antigamente, quando se clicava em alguma coisa e se ficava esperando que o arquivo “abrisse”, ou que a tela mostrasse a página seguinte, era como, comparou certa vez Marcos Sá Corrêa, se fosse folhear um livro e se detivesse a folha a meio caminho. Algo completamente sem sentido.
Pois conseguiram piorar essa situação, colocando um anúncio indesejado num volume ampliado – berreiro, esse, mais do que indesejado, maldito. E o usuário é obrigado a ficar esperando alguns segundo para “pular o anúncio”, a menos que decida “pular” tudo e mandar o YouTube passear.
Furo furado
Outra manifestação francamente hilariante está na coluna da ombudsman da Folha de S.Paulo, Vera Guimarães Martins, de 17 de agosto:
“A morte súbita e trágica [sic; que outras mortes em acidentes não são trágicas?] do candidato à Presidência Eduardo Campos deu uma demonstração da força do jornalismo de internet, mas deixou evidentes suas fragilidades.
“A começar pela técnica: primeiro a noticiar que o ex-governador estava no avião que caiu em Santos, o site da Folha atraiu, em menos de cinco minutos, um total de visitas seis vezes maior do que a média normal ao longo de uma hora. O sistema entrou em pane e saiu do ar. Por cerca de 25 minutos, o leitor não conseguiu acesso à notícia e encontrava a página sem atualização. Dos grandes jornais, foi o último site a confirmar a morte de Campos.”
O rabo anda abanando o cachorro. Só não vê quem não quer.