Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Marina Silva, heroína ou vilã?

Com a morte trágica de Eduardo Campos, Marina Silva saiu de um quase ostracismo na posição de candidata a vice para se tornar o nome que provavelmente mudará os rumos da eleição presidencial. Antes mesmo do candidato do PSB ser sepultado, diversos analistas passaram a especular o que deve ocorrer em termos de corrida eleitoral e as notícias não são boas para a presidente Dilma Rousseff e, principalmente, para o tucano Aécio Neves, que corre o risco de perder até o segundo lugar e consequentemente uma vaga em um provável segundo turno. Apesar de em política nada ser definitivo, o desespero já bateu em alguns colunistas e blogueiros raivosos que partiram para os seus costumeiros ataques de baixo nível, agora contra a substituta de Campos. Resta saber, como a grande mídia tratará o “efeito Marina”.

Há quase um consenso entre os analistas de que com a entrada de Marina Silva haverá segundo turno e as chances dela estar nele são grandes, pois além de contar com a simpatia de um considerável percentual de eleitores, é vista como uma alternativa contra a polarização PT x PSDB – e ainda tem o fator emocional; muitos indecisos e até quem estudava votar em Dilma ou Aécio, poderão, sensibilizados pela tragédia, optar por Marina.

Se a candidata do PSB chegar ao segundo turno, quase certamente enfrentará a presidente Dilma Rousseff. Ou seja, Aécio (mesmo com todo apoio da grande mídia) estará fora da disputa. O simples rascunho desse cenário tem assustado tanto os tucanos de carteirinha da imprensa que eles já formaram uma tropa de choque para atacar de maneira virulenta e tentar descontruir a imagem da substituta de Campos. Um colunista escreveu que Marina é “prepotente, desagregadora e arrogante”. Outro foi mais longe e ridicularizou a dor que ela estava sentindo pela perda de Eduardo Campos, dando a entender que tudo não passava de uma jogada política, sem contar os muitos adjetivos chulos e frases de efeito utilizados para supostamente fazer uma “análise” política da candidata.

Mais uma prova de que o efeito Marina tirou o sono de colunistas tucanos é que nos últimos dias eles simplesmente abandonaram seu mantra de mais de uma década de só atacarem o governo federal e o PT e concentraram a artilharia na candidata do PSB. Antes, eles temiam que “Aécião” perdesse no primeiro turno para uma mulher; agora se desesperam com a possibilidade dele ser derrotado não por uma, mas por duas mulheres.

Bater ou adular?

Mesmo adorando e apoiando o trabalho sujo feito por seus colunistas, a grande mídia sabe que eles têm um poder de alcance limitado e sozinhos não conseguirão (apesar de acharem que sim) fazer um grande estrago. Por isso, essa grande mídia está na espreita, sabe que não pegaria bem ser deselegante com Marina poucos dias após a morte de Eduardo Campos. Então, a solução é esperar o resultado das próximas pesquisas eleitorais. Se elas apontarem um crescimento discreto da nova candidata em relação ao que já tinha Campos, bandeira da paz, mas caso ameace a ida de Aécio Neves para o segundo turno, é provável que muitos escândalos, intrigas e principalmente baixarias apareçam nos noticiários.

Porém, existe a possibilidade de, vendo que o candidato preferido está fadado à derrota, a grande mídia e os que a mantêm passarem a apoiar Marina e a poupem de ataques pesados. Óbvio que isso só ocorrerá se a as propostas da candidata se adequarem ao que eles querem (como diria a expressão popular “é aí onde mora o perigo”). Se tal aliança vier a se consumar, os colunistas raivosos e egocêntricos sofrerão mais uma dura derrota, vendo que suas táticas incansáveis de ataque baixos e desvios de foco novamente não surtiram efeito e dessa vez ainda foram desdenhadas pela própria grande mídia que os acolhe.

Mas não são só os que apoiam os colunistas tucanos que andam assustados com o efeito Marina. Alguns blogs e veículos de comunicação que apoiam o PT temem que Dilma vá para o segundo turno na frente, mas tome a virada, tanto é que os simpatizantes da presidente já estão postando textos e mais textos chamando a candidata do PSB de traidora, vendida, oportunista etc. O baixo nível é o mesmo; a diferença é que esse pessoal tem um poder de influenciar muito menor que o da grande mídia.

A ética sairá derrotada

Apesar de já ter sido candidata em 2010, Marina Silva é uma grande incógnita especialmente para os não que acompanham a política tão de perto; tem pontos favoráveis e desfavoráveis, qualidades e certamente defeitos que precisam ser esmiuçados e debatidos. Exatamente por isso, seria deveras importante que os eleitores fossem abastecidos com matérias e artigos que trouxessem informações e opiniões equilibradas sobre quem ela é, o que já fez na política, o que pensa e o que realmente pode fazer se eleita. Se ela ganharia ou perderia com essas reportagens e análises sérias não interessa, o importante é que o eleitor pudesse se informar e decidir com mais precisão se ela merece ou não o seu voto. Mas, ao invés disso, o que temos é o jogo sujo de sempre da grande mídia que atacará ou bajulará a candidata do PSB conforme o que for decidido nos bastidores. Ou seja, a população terá uma heroína ou uma vilã dependendo do viés midiático a ser adotado.

Em outubro, quando as urnas “falarem”, veremos qual será o verdadeiro efeito Marina. Se comprovadas as previsões dos analistas, teremos uma eleição emocionante, porém com mais uma cobertura midiática vergonhosa, onde artigos e notícias tendenciosos pulularão a todo instante nos mais variados veículos (salvo, as cada vez mais raras exceções). Nesse cenário político de tantas dúvidas, a única certeza é a de que teremos mais um ano em que a ética jornalística sairá derrotada das eleições.

******

Marcelo Jorge Moraes Rio é professor e jornalista