Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Quando perguntar provoca mudanças

O delegado Denisson Albuquerque, chefe da Polícia Civil de Alagoas, sem querer deu uma lição extraordinária aos jornalistas no dia 4 de agosto. E, com uma simples pergunta, obrigou a Justiça de Alagoas a desobstruir o sistema penal do estado, onde presos, sem condenação formal, eram apinhados um sobre o outro em celas coletivas, abarrotando os estreitos corredores da Casa de Custódia de Maceió, onde eram algemados a grades de ferro e também ficavam acorrentados dentro dos camburões durante dias à espera de vagas nas cadeias.

Perplexo com a omissão geral do governo, da justiça e do sistema penal local, Denisson perguntou, num programa de TV de grande audiência: “Se não há onde colocar mais presos, nós, delegados, devemos levá-los para casa?”

A pergunta é a maior arma dos jornalistas. Sem ela não há notícias, nem jornalistas. O jornalista é o personagem de instigação da sociedade. O desvendamento de grandes questões sociais só se faz com investigação. E a alma da investigação é a pergunta. John Reed foi o primeiro jornalista a começar a desvendar os caminhos que levaram à implantação do comunismo na URSS, que acabou conduzindo o país ao naufrágio político, formulando perguntas.

Ao deixar os jornalistas sem resposta, as autoridades se encaminham, quase sempre, por estradas tortuosas, perigosas, escuras. Por isso, nem precisou fazer críticas ao sistema penal do estado. Apenas uma pergunta angustiante: temos que levar os presos para casa? Em menos de 24 horas, a justiça e o Ministério Público foram obrigados a responder. Fez-se um mutirão com uma centena de juízes e promotores. Os casos mais graves e mais palatáveis foram separados – os envolvendo posse de arma e desacato foram soltos e os de morte e de roubo de grande monta ficaram presos. Resultado: o equilíbrio entre o número de vagas e o de presos foi restabelecido e acabou uma lenga-lenga que já durava meses.

Finda a crise, agora se busca uma solução duradoura com o acompanhamento dos presos pela justiça, para, outra vez, se evitar o congestionamento do sistema. E a obtenção de mais espaço físico para acomodação de presos no sistema penal.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor