A importância da preservação do jornalismo responsável e de credibilidade, em meio à revolução tecnológica e de comunicação proporcionada pela internet e suas redes sociais, foi reafirmada na décima edição do Congresso Brasileiro de Jornais, organizado pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
No encontro, houve intensa discussão sobre os novos modelos midiáticos e os problemas que eles trazem à prática jornalística e às empresas voltadas para a produção de noticiário de qualidade – que enfrentam o desafio de adaptar-se às mudanças sem perder sua razão de ser, isto é, fornecer a seus leitores informações relevantes e precisas.
Houve consenso, em primeiro lugar, de que as empresas precisam perseguir modelos de negócios que lhes garantam autonomia financeira, pois somente assim poderão manter o pluralismo e a independência que caracterizam os grandes veículos de imprensa. Esse esforço, portanto, deve ter como premissa a preservação da credibilidade dos jornais.
Os diretores de jornais que participaram do encontro concordaram que a internet não pode ser vista como adversária nesse processo, e sim como aliada, criando novas formas de disseminação de notícias e acentuando a interação com os leitores.
Pesquisas recentes indicam que os sites dos grandes jornais são os mais procurados pelos leitores quando buscam notícias na internet. Tal fenômeno comprova a importância desses veículos mesmo diante da crescente relevância das redes sociais como difusoras de informação. Ademais, a integração cada vez maior dos jornais com a internet está proporcionando a abertura de novas oportunidades de negócios, cuja dimensão ainda é desconhecida.
A ênfase do congresso na preservação do jornalismo independente e de qualidade ficou clara na entrega do Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2014. A homenageada foi a colombiana Catalina Botero, relatora de Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Ao receber o prêmio, Catalina sublinhou que as notícias que realmente importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, e sim de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade – algo que está na essência dos bons jornais impressos.
“Não posso concordar com quem acredita que a imprensa escrita pode ser substituída por mensagens de 140 caracteres”, discursou Catalina, referindo-se ao Twitter, uma das redes sociais que alguns apressadamente qualificam como o “jornalismo do futuro”. Ela elogiou o “jornalismo cidadão” – isto é, a informação veiculada por qualquer pessoa por meio das redes –, mas deixou claro que essa modalidade não pode ser equiparada ao jornalismo tradicional, cuja responsabilidade é infinitas vezes maior, sendo fundamental para a manutenção da própria democracia.
A preservação do jornalismo de qualidade é, portanto, uma missão incontornável, e a premiação a Catalina simboliza esse esforço – como se sabe, a CIDH tem resistido nos últimos anos às truculentas investidas dos regimes bolivarianos, inconformados com sua determinação de denunciar as violações à liberdade de imprensa nesses países.
Além do prêmio a Catalina, o desafio de enfrentar o arbítrio para preservar as liberdades básicas dos cidadãos por meio do jornalismo independente foi simbolizado, no congresso, pela homenagem prestada a Ruy Mesquita, diretor do Estado, e a Roberto Civita, diretor do Grupo Abril, que morreram em maio do ano passado.
A entrega de placas comemorativas às famílias dos dois jornalistas foi feita por João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, que destacou a firmeza e a inteligência de ambos para enfrentar a censura – e, depois da ditadura, para consolidar a ideia de que o jornalismo de qualidade é um bem público.