Friday, 08 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Para principais veículos, internet valoriza jornalismo de qualidade

Reunidos durante o 10º Congresso Brasileiro de Jornais, os dirigentes dos maiores jornais do país demonstraram otimismo em relação ao futuro do jornalismo na era digital.

“Os jornais avançaram muito na busca de um modelo de negócios, e o paywall [sistema de cobrança de conteúdo] serve como um divisor de águas”, afirmou Luiz Frias, presidente do Grupo Folha, que edita a Folha.

“No início se achava que o caminho seria como o da TV aberta, com receita publicitária, mas os jornais perceberam que as pessoas estão dispostas a pagar por conteúdo de qualidade. É um caminho que não vai ter retorno.”

Para Luiz Frias, a internet mudou a forma de consumir o jornalismo, “mas nunca o atingiu na sua essência, na sua credibilidade”.

O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, ressaltou que a profusão de boatos na internet beneficia quem faz jornalismo de qualidade.

“Passamos por muitas angústias nas últimas duas décadas, mas pouco a pouco fomos percebendo que o ambiente digital ajudou muito os jornais”, disse Marinho.

Nesta terça (19), a ANJ apresentou para o mercado publicitário e para os anunciantes a campanha de reposicionamento dos jornais, que inclui a plataforma Digital Premium Jornal, que permite anunciar em sites de uma rede de jornais simultaneamente.

Para Francisco Mesquita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado, a iniciativa é resultado de união inédita no setor, que “facilita a volta do antigo tripé –veículo, agência e anunciante– trabalhando na mesma direção”.

Nelson Sirotsky, presidente do conselho de administração do Grupo RBS, ressaltou a importância da independência econômica das empresas jornalísticas para a sustentação da liberdade de expressão e da democracia.

“Quando apresentamos, de maneira concreta, ferramentas para o mercado, estamos contribuindo para a democracia do país.”

Assinatura digital

Luiz Frias disse acreditar que o número de assinantes digitais da Folha deve ultrapassar os assinantes do papel dentro de 12 a 18 meses.

Ele previu que, dentro de um ano, o número de assinantes digitais dobre. “Isso vai representar uma receita menor, uma vez que a assinatura digital é mais barata, mas o lucro será maior, já que não há os custos de impressão e distribuição.”

Reinvenção da mídia

Ainda pela manhã, o analista e consultor de mídia Ken Doctor, referência no estudo das transformações do jornalismo global, apresentou o que chamou de melhores práticas no processo de reinvenção das publicações.

Doctor destacou três caminhos: as relações dos veículos com seus leitores, anunciantes e comunidades.

No primeiro caso, registrou o sucesso do paywall, com assinaturas já respondendo por mais de metade da receita geral em muitos títulos. E defendeu o “paywall 2.0”, caracterizado por produtos para nichos de leitores, como o recém-lançado NYT Now, do “New York Times”.

No segundo caso, da relação com os anunciantes, apontou o êxito crescente da publicidade nativa (conteúdo patrocinado) e de outras iniciativas conjuntas, por exemplo, em eventos.

Por fim, disse que os jornais devem mostrar que conhecem e servem melhor as suas comunidades, diferentemente do que faz o “duopólio”, como ele chama as empresas Google e Facebook, no meio digital.

Na abertura do congresso, a jornalista colombiana Catalina Botero, relatora de liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, recebeu o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa.

Botero lembrou as dificuldades que a liberdade de expressão enfrenta nas Américas, por interferências estatais e do crime organizado.

Lembrando frase do jornalista e escritor colombiano Gabriel García Márquez, Botero disse que o jornalismo é o “melhor ofício do mundo”.

E insistiu: “Em uma democracia, temos a necessidade do jornalismo profissional”.

A sessão homenageou também os empresários Roberto Civita, do Grupo Abril, e Ruy Mesquita, do Grupo Estado, mortos em 2013.