É uma brincadeira tais políticos tentarem – o fato de tentarem já me incomoda – representar o Brasil como presidente da República. Quem assistiu ao debate na Band, ocorrido na noite de terça-feira (26/8), saberá e entenderá do que estou falando. Qual a obrigatoriedade para ser um político no Brasil? Não sei, literalmente; depois da entrevista assistida, vi que qualquer um pode se eleger à Presidência da República. Talvez, esteja aí a “bestocracia”, só com neologismos para ficar melhor meu sentimento.
O debate, que ocorreu por mais de duas horas e meia com pequenos intervalos, foi assunto em toda mídia. No Twitter “choviam” mensagens para os candidatos com a #debatedaband. Os brasileiros mostraram que estavam prestando atenção em cada pingo no i que era dito. Um ponto positivo, pois muitos podem a partir de agora repensar sobre sua escolha política nas eleições de outubro.
Quando o programa iniciou, eu já sabia de uma coisa: vou rir para não chorar. E realmente ri com o “rei da zoeira”, Eduardo Jorge, do PV. O candidato estava mais perdido do que cego em tiroteio; pode-se notar o candidato “para lá e para cá” no momento em que o candidato Levy Fidelix iniciava sua fala no início do programa. Passou seis vezes atrás do candidato enquanto ele falava por um minuto e meio. Mais uma passada e eu gritaria Alemanha! Pois bem, o candidato mostrou no início do programa que estaria ali não para falar de assuntos sérios, e sim, para sarrafar a candidata Marina Silva, do PSB, com a pérola: “Se auditar a nossa dívida e colocar ela numa ressonância, ela vai sair magrinha, parecida com você”. O baixo calão do candidato em ofender com comparações chulas mostra a ineficiência política do mesmo. Fora a frase magnífica: “Eu já falei pro PV que quero gastar o menos possível!” Claro, metendo sempre a mão no microfone.
Não se pode deixar citar a gafe que a candidata Luciana Genro, do PSOL, cometeu dizendo ao pastor Everaldo, do PSC, antes de indagá-lo, acrescentando que o chamaria de Everaldo, e não de pastor Everaldo, pois ela não mistura religião com política, mas que essa laicidade-ostentação também é chata demais, repito, é uma brincadeira. A candidata, que se mostra uma extremista da esquerda, atacou os candidatos e até o pobre jornalista que mencionou as manifestações de junho do ano passado – “Imagina que tu vais ter que ser a presidente, és um perigo!” – desce o chimarrão! A candidata que tem o sotaque “tu vais” afirmou que no governo dela as escolas não terão que estudar o criacionismo, pois há outras necessidades como a conscientização do uso da maconha – eu ri novamente aí – que é preciso sentar e conversar com nossas crianças e adolescentes sobre o uso da maconha, que a partir daí outras drogas mais pesadas são oferecidas, como o crack. Ela só se esqueceu de que não é obrigatoriedade no Brasil o estudo do criacionismo nas escolas; é facultativo. Mas tudo bem! A gente aguarda novas propostas.
Que outubro seja o Dia D
Aerotrem! Que venha o aerotrem! Muitos estão tristes. O candidato Levy Fidelix não mencionou o aerotrem. Ahhhhhhh! O candidato não citou a engenhosa peripécia que deseja aplacar em nosso país caso seja eleito. Analisando-se a postura política do candidato, podemos notar muita retórica gravada e estudada por um non sense partidário da base aliada. A frase mais picante foi: “Me restou bombardear a dona Marina. Eu digo, politicamente” – ainda bem que é politicamente, né, Levy? “Olha o aerotrem, senhores passageiros se direcionem para a plataforma A2 – Rio Grande do Sul – Manaus, tudo isso graças ao senhor Levy Fidelix, oremos!”
Falando em oração, vamos pausar nosso texto e orar pela alma do Pastor Everaldo que foi chamado pelo jornalista José Paulo de Andrade de “Pescador de Almas”. Ok. Um minuto. O candidato que estava confuso em responder as perguntas feitas a ele e que em muitas das vezes iniciava sua fala com “meus irmãos e minhas irmãs” mostrou a falta de capacidade para atuar no cenário político. E ah, vamos mandar mensagens para o pastor que esqueceu-se da palavra hidrelétrica e ao não se lembrar denotou com o sinônimo: energia de água. Palmas, pastor! E votem no pastor, pois no governo dele ninguém passará fome! Falando de fome me veio alface na cabeça e alface me remete a Marina.
A candidata à Presidência da República obteve uma postura fina igual a um pitbull raivoso de classe S. A nômade partidária atacou de forma dura Aécio Neves e Dilma Rousseff com direcionamento político correto e coerente. Começou sua primeira pergunta para a atual presidente Dilma e mostrou que sua preocupação está nela. Marina, que recebeu a ofensa de Eduardo Jorge, não rebateu com o mesmo taco, fez um discurso paralelo, pois a “não sei o que chamar” pergunta do candidato foi confusa e sem nenhum objetivo. Ela aproveitou e falou sobre algumas mudanças do seu partido. Mudanças que Dilma e Aécio ficaram calados, com medo de retrucar aos questionamentos.
Dilma x Aécio, este sim, foi o bom combate. Aécio Neves atacou insanamente Dilma Rousseff, que contra-atacou falando do governo de Minas Gerais. Foi uma disputa acirrada de ofensas e defesas. Para mim, isto não é politica, é politicagem. Aécio Neves afirmou: “O sonho de consumo dos brasileiros é morar na propaganda do PT”, “O governo do PT surfou nas reformas que foram feitas no governo FHC” e “Tráfico de drogas, tráfico de armas, não são responsabilidade dos estados, são responsabilidade da União”. E para não dizer que deixou de atacar Marina disse que ela é uma aventura, um improviso. Mas estava claro o ataque e para quem quisesse ver Aécio pegando um voo no aeroporto do Claudio era só saber onde estava a blitz mais próxima da PM.
E ao tocar o nome “di uma” moça chamada Dilma fique com dó. A nossa presidente foi atacada por todos os lados, até o Eduardo Jorge que estava aparentando um sintoma chamado non sense atacou. Ela foi bife pra leão. Dilma foi vítima de todos. Que pena, que dó. Mas a nossa presidente, com suas artimanhas peculiares, mostrou a Aécio Neves que foi uma excelente combatente e que sabe lhe dar as respostas certas. Disse para Aécio e aos demais tucanos que: “A verdade é que o governo do PSDB quebrou o Brasil três vezes”. A senhora presidente se defendeu bem, sabia que seria atacada. Só se perdeu quando disse que o governo do PT nunca colocou nada embaixo dos panos, tudo foi claro. Embaixo dos panos, não, imagina, mas dentro da cueca sim! Dá-lhe, Dirceu!
Em suma, foi tiro, porrada e bomba, como diz nossa filósofa contemporânea. O debate foi sangrento, estilo “Jogos Vorazes”, e quem venceu? Não sei. Será que todos foram sinceros? Ou só houve mais mentira? Depois do fim do programa Dilma respondeu aos jornalistas que não viu agressividade nas perguntas e nem nas considerações feitas pelos outros candidatos. Será mesmo, senhora presidente? O nosso show-time de duas horas e meia foi apenas um BBB? Talvez sim, talvez não. Todos de fato têm seus interesses próprios e sombrios. Mas, como acreditarmos? Devemos acreditar? O debate nos fez abrir os olhos? Espero que sim, como citei no início do texto. Realmente desejo que nós, brasileiros, possamos abrir nossos olhos para o futuro do Brasil. E que não façamos parte da polarização PSDB x PT x PSB, e sim, nos articulemos mais com o país. Que outubro seja o Dia D, dia do cidadão pobre e rico, do negro, do branco e do índio, de todos nós. Que seja o dia de fazer o bem para nós, brasileiros. Pois por quatro anos teremos consequências deste ato singular. Que nós sejamos verdadeiros brasileiros!
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Pedro Henrique de Lorena é professor de inglês