Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marina, a grande imprensa e a mídia pelega

Desde 1989, quando os brasileiros puderam escolher seu presidente após um hiato de quase três décadas, não temos um processo eleitoral tão disputado. O atual pleito, que parecia ser mais uma reedição da dicotomia PT e PSDB, ganhou novos contornos depois da trágica morte de Eduardo Campos e da entrada da ex-senadora Marina Silva. De acordo com as últimas pesquisas de intenção de votos, Marina não somente ultrapassaria Aécio Neves (candidato preferido da grande imprensa) no primeiro turno, como também venceria a atual presidenta Dilma Rousseff (apoiada pela “mídia pelega”) em um possível segundo turno. Assim, com a divulgação desses resultados preliminares, tanto a imprensa hegemônica quanto a “mídia pelega” começaram uma acirrada perseguição à candidata do PSB.

Considero como “mídia pelega” os veículos de comunicação que, ao invés de manterem uma postura crítica em relação ao atual Executivo Federal, preferem atrelar-se incondicionalmente ao poder. Desde a divulgação oficial da candidatura de Marina Silva em substiuição ao falecido Eduardo Campos, CartaCapital (uma das principais publicações pelegas)tem dedicado praticamente todo seu noticiário político para atacar a ex-senadora. A partir das análises dos títulos de algumas reportagens da revista de Mino Carta (“7 motivos pelos quais Marina Silva não representa a nova política” ou “Marina Silva e o voto dos desencantados”, entre outros) não é difícil constatar o desespero de CartaCapital ante a possibilidade de Dilma Rousseff não conseguir se reeleger para a presidência da República.

Por outro lado, a revista Veja, que tacitamente apoia a candidatura tucana, tem sistematicamente questionado o programa político de Marina Silva em suas últimas edições e apresentado algumas “estratégias” para evitar que ela continue crescendo nas pesquisas de intenção de votos. Se em 2010, Marina teve vital importância para que a eleição fosse para o segundo turno, neste ano ela é motivo de preocupação constante para os setores ligados ao principal partido de oposição do país.

Marketing é mais importante do que ideias

Evidentemente este artigo não é, em hipótese alguma, contrário a reportagens que criticam os candidatos a presidência. Entretanto, é importante ressaltar que uma questão é fazer jornalismo isento e outra é produzir matérias com um viés puramente tendencioso, como faz boa parte de nossa imprensa. Eleição não é futebol para você torcer passionalmente por algum candidato ou partido.

Também é preciso frisar que não pretendo fazer uma apologia à candidatura Marina Silva. É fato que a ex-senadora não representa uma “nova política”, como tanto apregoa. Seus conchavos, alianças com setores reacionários e o conservadorismo religioso são típicos do que há de mais anacrônico na política brasileira. Ao contrário das útiimas eleições, quando apresentava um direcionamento mais ideologizado, atualmente ela apresenta um discurso evasivo, tipicamente eleitoreiro, que procura “conciliar” vários interesses antagônicos. Portanto, Marina Silva pode ser considerada uma “laranja” da direita sob um verniz pseudo-progressista. Não obstante, como os recentes debates entre presidenciáveis têm demonstrado, enquanto os partidos nanicos não têm receio algum em apresentar claramente suas propostas, os candidatos com reais chances de vitória, para conquistar mais votos, tendem a manter discuros inócuos. Em suma, no Brasil, marketing político é mais importante do que ideias para se vencer uma eleição.

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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG