A imagem da capa da Veja do fim de semana (13/09) e o choro midiático de Marina Silva, candidata a Presidência da República, trazem algumas informações do nível atual da comunicação política que o Brasil tem. Desse modo, podem-se resgatar alguns elementos de como a imagem da política se esvai como a arte da manutenção do Estado Democrático de Direito das disputas pelo poder hegemônico. Ou seja, para alcançar o poder vale tudo. Desde as prerrogativas messiânicas de salvação até o elemento masoquista de vitimização, cujo clímax da ópera bufa é a performance das lágrimas de Marina Silva.
Uma série de informações foi veiculada na própria imprensa oligárquica, bem como os erros estratégicos da candidata. Todos vieram à tona e foram veiculados na internet, mostrando as constantes contradições do seu grupo ideológico. Ela parece chorar por si. A construção de uma imagem messiânica da candidata do PSB revela um deliberado planejamento e estratégias que lidam com elementos comunicacionais. Eles tentam potencializar o ícone de uma mulher escolhida por Deus, uma taumaturga, diferenciada, uma santa Marina.
Suas vestimentas, sua contenção corporal, suas feições e modos estéticos reforçam essa caracterização. Daí, surgem efeitos diversos, pois estão no âmbito do imaginário, do discurso e do inconsciente. As consequências disso nas eleições dependerão da maturidade e racionalidade dos eleitores.
A produção alegórica da realidade
A revista Veja lança uma capa cujo tema é a vitimização de Marina Silva: uma grande boca (com batom e dentes que lembram a presidenta) aberta xingando a candidata, que resiste plenamente ao assédio dos inimigos, nesse caso o PT. A elaboração discursiva, longe dos cânones do jornalismo, é uma construção ideológica de defesa da candidata, uma espécie de texto solidário e denunciador, quase um manifesto.
Marina é vítima de uma força sobrenatural, sem aspecto humano, uma boca gigante. Traz a lembrança das bestas apocalípticas que a asceta da Rede enfrenta. Da boca gigante saem cobras e lagartos que não abalam a crente. No texto escrito, a boca seria o PT, o grande antagonista da Veja e atualmente da própria Marina.
Veja representa os ricos e interessados em uma política econômica rentista e mais comprometida com as forças econômicas internacionais. Uma inimiga da produção e do desenvolvimento social, do emprego e renda. Veja faz parte de do grupo econômico e político interessado em Marina Silva para retomar as práticas de independência do Banco Central e privatização das empresas estatais.
O significado da defesa de Veja não é um apoio, pois Marina não tem a confiança direitista como o candidato Aécio Neves do PSDB, querido pelas empresas de comunicação. Todavia, contra a atual gestão do PT, qualquer coisa serve. E a candidata do PSB é essa qualquer coisa, mesmo com sua instabilidade e incoerências. Assim, usa-se de todo arsenal icônico para produzir uma versão alegórica da realidade, a vítima e seu martírio. A manipulação do signo faz surgir uma imagem de Marina vítima para brecar a desconstrução do discurso messiânico da boa moça da política brasileira, neutra, incólume e apolítica.
O choro na política
Veja nesse caso usa de uma alegoria para veicular uma mensagem, a imagem já construída e agora destruída do sebastianismo que parece acima do bem e do mal. A incólume Marina parece esvaecer-se pelas cobras e lagartos na comunicação (complemento: militante petista representado na boca feminina que simboliza Dilma).
Talvez seja uma dissolução permanente na imagem política dela que prefere os neoliberais, banqueiros, pastores midiáticos e Veja. Ou seja, o grupo político atrasado e reacionário no Brasil.
Amedrontada, toma um choque do real. Alguém disse: “O rei está nu”. Ela chorou. Na hipótese de que haja medo, sabe-se que as lágrimas são uma força primitiva para sobreviver e que os biólogos evolucionistas apontam como um mecanismo de defesa dos mamíferos. Mas na bíblia há mais 350 enunciados contra o medo. Corroborando com a capa da Veja, o choro de Marina.
O caso da candidata do PSB parece ser uma ação performática deliberada e uma estratégia de marketing político. A imagem plástica de Marina parece muito bem construída em cima de um discurso messiânico que ela potencializa. Suas lágrimas são a cereja do bolo. Traz a imagem de quem chora por não aguentar as verdades da política de seus antigos aliados, hoje seus ferozes adversários. As lágrimas de Marina são outra alegoria, pois lembram a imagem das nossas senhoras que choram no Brasil afora contra o pecado e contra o avanço do comunismo.
Numa crítica a esse tipo de apelo sentimental-religioso-moralista, a candidata chora por ela mesma, talvez pela frustração de uma realidade que vai ao encontro ao universo simbólico em que seu pastor revelou o destino dela de ser comandante em chefe das forças armadas brasileiras. Não é o choro da coletividade.
Por fim a pergunta que não se quer calar é: por que Marina não chora pelas reais vítimas históricas do Brasil: os pobres, os negros, as mulheres, os índios, os trabalhadores, as crianças, a população LGBT e os nordestinos?
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Moisés dos Santos Viana é jornalista e professor de Comunicação