Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

EUA, suspeitos e beneficiários das tragédias aéreas

A grande mídia – repentinamente e sem a menor explicação – silenciou sobre duas importantes tragédias aéreas que sacudiram o tabuleiro geopolítico internacional. Falo dos incidentes envolvendo o Boeing 777 voo MH17, na Ucrânia, e o Cessna 560XLS, que vitimou o então presidenciável do PSB Eduardo Campos e seis membros de sua equipe de campanha.

Os dois acontecimentos possuem implicações político-econômicas representativas e interessantes a grandes grupos de poder internacionais, estando ambos em situações nebulosas, as quais levantam questionamentos sobre o porquê não mais se investiga nem se divulgam informações sobre os casos.

Quanto ao voo MH17, estão sem explicações os seguintes fatos:

i) A caixa-preta se encontra há semanas em Londres, sem que as autoridades disponibilizem sequer trechos das gravações nela contidas [1];

ii) As aeronaves de guerra SU25 ucranianas detectadas pelo governo russo pouco antes da queda, que se aproximaram entre 3 à 5 quilômetros do Boeing 777 [2];

iii) As imagens de fragmentos da aeronave as quais um especialista alemão indicou serem perfurações à bala [3];

iv) A reportagem da BBC com moradores que testemunharam dois aviões militares sobrevoando a área no momento do acidente [4], e;

v) O confisco das comunicações entre a aeronave e a torre de controle por parte do governo de Kiev [5].

Estas informações colocam em xeque a versão oficial de que um sistema antiaéreo Buk, operado por rebeldes pró-Rússia, teria abatido o avião. Por que a Ucrânia, os EUA e a Inglaterra não divulgam as gravações? Que interesses possuem em obscurecer o caso? Considerando o aparato orwelliano/panóptico de monitoramento de Washington, é plausível que não tenha havido nenhuma imagem que ateste a versão por eles contada?

“Acidentes” que vitimaram personalidades

Passemos agora ao Cessna 560XLS, que caiu em Santos, matando Eduardo Campos e sua equipe. Abaixo, seguem as informações ainda obscuras:

i) As investigações não chegaram ao real dono da aeronave [6];

ii) Encontrou-se uma série de laranjas os quais se atribuíram pagamentos pelo bem [7];

iii) Os voos não foram contabilizados nos gastos de campanha [8];

iv) A polícia federal apurou que Campos negociava a compra do avião [9];

v) O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, redigiu parecer que aponta diversas ilegalidades em torno do uso do Cessna [10].

E então, o componente deste caso que o assemelha ao voo MH17. Por alguma razão ainda não explanada em definitivo, a caixa-preta do avião não gravou as comunicações do dia do incidente. Nos dois casos não se tem acesso às gravações do cockpit, o que, virtualmente, quase elimina a possibilidade de determinação da causa das quedas.

Este quadro configura uma total e estranhíssima falta de materialidade no tocante às investigações, o que levanta suspeitas sobre possíveis sabotagens. Analisando a história, a conjuntura, o desenrolar dos fatos e os beneficiários deste, podemos, talvez, nos aproximar da verdade.

Iniciemos pela história, repleta de “acidentes” que vitimaram personalidades importantes, gerando gordos dividendos econômicos e geopolíticos a adversários. No dia 24 de maio de 1981, o então presidente do Equador, Jaime Roldós, de orientação reformista e avesso à presença das petroleiras norte-americanas no país, morreu junto de seu ministro da Defesa e de toda a tripulação, quando o avião em que viajavam, um Super King Air, se “acidentou” na montanha Huairapungo. Pouco mais de dois meses depois, no dia 31 de julho, Omar Torrijos – ditador panamenho anti-imperialista e pivô da retomada do controle do canal do Panamá, antes sob controle de Washington – faleceu após seu avião, um DHC-6, cair misteriosamente em Cerro Marta, próximo a Penomoné, região central de seu país natal.

A política externa deu um giro para o Sul

Sobre as mortes destes líderes, temos a intrigante alegação que consta no livro do ex-executivo da área financeira John Perkins, intitulado Confissões de um Assassino Econômico. Podemos ler, já no início:

“Este livro deveria ser dedicado aos presidentes de dois países, homens que foram meus clientes, a quem respeitei e em quem vi grandes espíritos – Jaime Roldós, presidente do Equador, e Omar Torrijos, presidente do Panamá. Os dois morreram em temerosas quedas de aeronaves. Suas mortes não foram acidentais. Eles foram assassinados por se oporem à fraternidade de corporações, governos e banqueiros que almejam um império global. Nós, os assassinos econômicos, não conseguimos deter Roldós e Torrijos, e então, outro tipo de assassinos, os sancionados pela CIA, que sempre aparecem após nossas falhas, atuaram.”

É imperativo acrescentar, neste ponto, não um “acidente”, mas a prova de que estes são planejados por governos. Nos anos 60, oficiais das mais altas patentes dos Estados Unidos planejaram derrubar um avião em território cubano a fim de fabricar um pretexto para invadir Cuba e derrubar o governo socialista, implantado na ilha depois da revolução de 1959.

Voltando para o presente e a atual conjuntura geopolítica, perguntemos então: quem se beneficia desse quadro? Cui bono? Os efeitos, os acontecimentos posteriores aos incidentes envolvendo o voo MH17 e o Cessna 560XLS, são completamente favoráveis, novamente, a Washington. Explico.

O neoconservadorismo norte-americano instituiu a Doutrina Wolfwoitz, que prevê a contenção de toda e qualquer potência capaz de lhes fazer frente, seja no campo político, econômico ou militar. A Rússia – com suas vastas reservas energéticas – iniciou uma integração euro-asiática por meio da venda de seu gás natural e compra de alimentos produzidos pela União Europeia. O resultado foi uma aproximação e interdependência entre as partes, com a balança pesando para Moscou, pois passara a fornecer um terço de todo gás consumido pelos europeus. Concomitante a esta movimentação, a Rússia voltou a se aproximar da China, e estes, em conjunto, têm atuado no sentido de abandonar o dólar em suas transações e ainda incentivando seus parceiros a fazer o mesmo.

E neste ponto se insere o Brasil. Desde que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder, a política externa deu um giro para o Sul, priorizando o comércio entre o Mercosul e os países em desenvolvimento. Em assuntos de segurança, abandonou o alinhamento automático a Washington, passando a questionar as intervenções militares da Otan, usando da diplomacia para conter os rompantes imperiais do Ocidente.

Ingerências e hostilidades externas

O ápice da integração do Sul global se deu em Fortaleza, na VI Cúpula do Brics, ocorrida em julho deste ano. Além de se aproximarem politicamente, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul criaram o Novo Banco de Desenvolvimento e um Arranjo de Reservas Contingentes, organismos que visam ser alternativa ao Banco Mundial e ao FMI, engessados pela ortodoxia econômica e o excesso de poder de decisão dos desenvolvidos. Ora, este quadro retrata com clareza tudo aquilo que Washington evita, a perda de importância geopolítica. Os EUA precisam manter, e não hesitam em usar de todos os métodos, o dólar como referência mundial e o controle do fluxo energético. O petrodólar é a base de seu financiamento. Corroboram com essa visão as análises do professor Wallerstein. Considera ele que a perda de relevância dos EUA é inevitável, mas que Washington responde a isso se tornando mais hostil, na tentativa de manter sua posição.

As duas tragédias aéreas beneficiaram diretamente o Tio Sam. A da Ucrânia foi usada como pretexto para isolar a Rússia, trazendo uma avalanche de sanções econômicas. Por aqui, a morte de Eduardo Campos trouxe Marina à cabeça da chapa do PSB e esta foi catapultada na opinião pública, tornando-se favorita na eleição presidencial. Convenientemente, a plataforma de Marina é muito mais propensa ao capital financeiro e ao alinhamento a Washington.

Wayne Madsen – experiente jornalista investigativo e ex-oficial da Marinha para assuntos de segurança – é taxativo. Em publicação do último dia 30 intitulada “All factors point to CIA aerially assassinating Brazilian presidential candidate“ (Todos os fatores apontam para a CIA ter assassinado o candidato à presidência brasileiro, tradução livre), lemos: “Uma revisão da história do pós-Segunda Guerra Mundial nos revela que de todos os métodos que os serviços de inteligência usam para eliminar seus problemas político-econômicos, o assassinato por tragédias aéreas está em segundo no ranking, a frente dos acidentes de carro e envenenamentos, e somente atrás do uso de armas de fogo, que é o modo favorito da CIA para as execuções políticas. […] A América Latina, em particular, sofreu com tragédias aéreas que mataram dois líderes determinados a se afastar da influência política norte-americana, o presidente Jaime Roldos Aguilera, do Equador e o presidente Omar Torrijos, do Panamá. […]

O envolvimento histórico dos EUA em assassinatos aéreos levanta suspeitas sobre o acidente com o Cessna 560XLS no dia 13 de agosto em Santos. Este vitimou o candidato à presidência pró-mercado do Partido Socialista Brasileiro, Eduardo Campos, e toda sua assessoria. A tragédia ocorreu justamente num momento em que se delineava uma vitória tranquila de Rousseff e isto levantou muitos questionamentos entre os investigadores brasileiros e a opinião pública.”

O panorama, quando contextualizado, levanta sérias suspeitas sobre o envolvimento dos serviços de inteligência norte-americanos na queda dos aviões, tanto na Ucrânia como no Brasil. A verdade só será descoberta com um eventual vazamento de documentos classificados. É imperativo que a sociedade brasileira e mundial permaneça atenta as ingerências e hostilidades externas, a fim de trabalhar pela paz, garantir a soberania das nações e a autodeterminação dos povos.

PS: A imprensa anuncia sem muita veemência o relatório da comissão holandesa (Dutch Safety Board Report), que concluiu que o Boeing 777 da Malaysia Airlines foi atingido externamente por um “grande número de objetos de alta energia”, o que torna praticamente evidente que o avião foi derrubado por tiros. O documento é extremamente comprometedor à tese ocidental que culpa os separatistas do Leste ucraniano e é exatamente por isso que nenhuma autoridade, europeia ou norte-americana, se pronunciou sobre o assunto.

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Rennan Martins é blogueiro e editor