Cerca de 280 executivos do comando das empresas do Grupo Globo passaram a tarde de ontem [quarta-feira, 10/9] reunidos com Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho. No encontro, os acionistas deixaram claro que o grupo não passa apenas por uma mudança de nome.
Por décadas, as companhias controladas pela família Marinho formaram as Organizações Globo. Agora, adotam a denominação grupo porque estão privilegiando a integração entre as empresas. A autonomia de cada uma fica mantida, mas será fortalecida a colaboração entre elas, com troca de informações e de conhecimento, disse ao Valor João Roberto Marinho, vice-presidente do grupo.
Estiveram reunidos os executivos que comandam os jornais, as redes de televisão e de rádios, a editora, as empresas de programação de televisão por assinatura, a gravadora e os sites. No Jockey Clube, no Rio, o apresentador da TV Globo Pedro Bial comandou uma espécie de talk-show com os acionistas. Dirigentes das empresas do grupo falaram de planos e projetos.
Segundo João Roberto Marinho, a mudança foi adotada porque “nos demos conta de que era preciso reforçar nossa identidade”. Por isso, está sendo promovida uma nova onda de divulgação do documento que define visão, missão e princípios do grupo, batizado de “Essência Globo”.
Apresentado internamente pela primeira vez em 2000, o documento foi revisto. Traz a ‘Visão’ e a ‘Missão’ das empresas Globo, assim como princípios que formam a base das opiniões, decisões e ações. “Queremos um ambiente onde todos se encontram e encontrem informação, diversão e cultura, instrumentos essenciais para uma sociedade que busca a felicidade de todos e de cada um”, diz o texto.
Áreas de identificação
João Roberto, como é conhecido o empresário, explica que “a mensagem de ambiente onde todos se encontram” cria exatamente um ponto em comum. Pode ser no jornal, nos sites, na televisão, na troca de mensagens durante a novela das nove. “O ambiente multiplataforma está nos estimulando a aumentar a integração entre as áreas internas e as empresas do grupo”, afirmou.
“Somos contadores de histórias. Seja na vida real, no jornalismo, tentando criar um primeiro conhecimento do que aconteceu. Seja na dramaturgia ou no humor. Enfim, somos contadores de histórias, somos produtores de conteúdo”, disse. Ele destaca que a estratégia de concentrar os esforços na excelência do conteúdo é fundamental para o cenário de competição internacional.
“Teremos uma vida dura pela frente. Quando olhamos o futuro, enxergamos uma competição maior de outros países, de grupos que operam internacionalmente. A competição vem lá de fora, seja na televisão por assinatura, nos sites, nos produtos, na internet. Temos que ser muito bons nisso para poder competir com o pessoal de fora”, afirmou.
João Roberto citou os valores do documento “Essência Globo”, que, segundo ele, já foram incorporados ao modo de atuação das empresas. Em reuniões internas disse ter identificado que, mesmo os que não conheciam o texto, citavam o valor de “brasilidade” com que a Globo envolve seus produtos como um diferencial, assim como a valorização dos talentos brasileiros.
Paixão por comunicação, atitude otimista, respeito à diversidade, compromisso com a qualidade, inovação e estética complementam os oito princípios do documento apresentado e discutido ontem [quarta, 10/9] com os executivos.
Exatamente em função da constante busca de qualidade, ele frisou que foi “acertadíssima” a estratégia “bem amadurecida” do grupo de desfazer-se de todos os negócios que não fossem mídia e produção de conteúdo. “Não temos nenhum outro interesse que não seja mídia. Se olhar para trás, já investimos na área imobiliária, na telefonia celular. Tivemos banco, seguradora, operadora de televisão por assinatura. Não temos mais nada, nenhum outro negócio que não seja mídia”.
Pessoalmente, os três irmãos só investem por meio de fundos. A regra está no acordo de acionistas. Segundo João Roberto, já que o Grupo Globo é tão forte em jornalismo, “não ter outros interesses ajuda muito a garantir um jornalismo absolutamente independente, defender o interesse dos cidadãos brasileiros”.
A estratégia de desenvolver o conceito de grupo vem sendo amadurecida há vários anos. João Roberto avalia que a denominação Organizações Globo aplicava-se a um conjunto de empresas que funcionava autonomamente e tinha como referência Roberto Marinho, seu pai. “Era uma empresa em que o dono era a referência de todo mundo. Para onde ele apontava, todos iam.” Os filhos tiveram o desafio de assumir o comando do grupo depois de uma personalidade tão forte como a do pai.
“Nenhum de nós queria ser Roberto Marinho, ter uma imagem pública forte, uma identificação pessoal tão relevante como a dele. Ao contrário, queríamos ter uma atitude mais discreta. Decidimos que formaríamos um conselho de administração. Trabalharíamos os três sempre juntos e decidiríamos tudo juntos”, disse João Roberto. Os irmãos definiram que não ocupariam funções executivas e cada um, por meio de participação em conselhos, iria se ocupar das áreas com as quais mais se identificassem.
João Roberto diz que o irmão, Roberto Irineu, com habilidade empresarial e de planejamento estratégico, assumiu a presidência; ele, João Roberto, por formação e história em “O Globo” e na TV Globo, desenvolveu afinidade com o jornalismo. Ficou responsável pela linha editorial e relações institucionais; José Roberto acompanha a Fundação Roberto Marinho, as relações comunitárias e com o terceiro setor, segmento de atuação que cada vez mais se amplia no grupo. Ambos são vice-presidentes.
Visão de futuro
O Grupo Globo montou uma estrutura corporativa leve. Centraliza as áreas jurídica, de planejamento e controle e financeira. Essa estrutura, sob comando de Jorge Nóbrega, apoia o processo de decisão no conselho de administração enxuto. É formado pelos três irmãos, Nóbrega, o ex-diretor geral da Rede Globo, Octávio Florisbal e o executivo com longa trajetória no grupo, Pedro Carvalho.
Desde o final da década de 1990 foram definidas ações e regras norteando o futuro das novas gerações, dos netos de Roberto Marinho nas empresas do grupo. Todos tornam-se acionistas após completarem 25 anos. São 12 netos. Sete que já participam da assembleia de acionistas.
“Montamos um programa para as novas gerações porque somos uma empresa familiar e pretendemos continuar sendo. Não sei se, ao longo dos anos, vamos continuar com capital fechado ou se será aberto. Mas o controle será da família. Achamos que se trata de uma vantagem competitiva grande. Empresa familiar tem mais visão de longo prazo, olha para frente e está preocupada com as gerações futuras”, afirmou João Roberto Marinho.
******
Heloisa Magalhães, do Valor Econômico