No Brasil, dizer que o jornalismo político se ocupa da cobertura dos acontecimentos que envolvem os três poderes do Estado – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário –, apesar de ser verdade, incorre em uma simplificação que não poderíamos deixar de apontar. Isso porque a função que o jornalismo assume, especialmente nessa editoria, também uma larga dose de megalomania.
O jornalismo, de forma geral, tende a se comportar como o detentor do Quarto Poder, o que vigia e intervém nos encaminhamentos dos outros três poderes, de acordo com o que considera de interesse público. Essa, no entanto, é uma premissa que corresponde muito mais a uma responsabilidade que a mídia gostaria de assumir, do que de fato um papel que lhe é de direito. No jornalismo político, de maneira especial, essa tentativa de se relacionar com os poderes administrativos é percebida de forma mais enfática. No período eleitoral, então, o jornalismo político se coloca como ferrenho defensor da democracia e justifica todos os seus posicionamentos com este fim.
Mas, será mesmo? Que serviço tão fundamental ao funcionamento da democracia o jornalismo acha que desempenha para se colocar como peça fundamental de seu jogo? Os que defendem esta prerrogativa, de forma geral, argumentam que um regime democrático pressupõe um amplo debate político, com ideias diversas, o que não seria possível sem o desenvolvimento dos meios de comunicação. E é justamente por garantir e proporcionar esses debates que o jornalismo estaria a serviço da democracia. Se pensarmos especialmente em um período eleitoral, podemos enxergar essa tendência de uma maneira mais clara.
Filtrar as informações
É o que se pode ver em períodos eleitorais, com os debates entre os candidatos que são promovidos por empresas de comunicação, no caso da televisão, ou mesmo nos jornais impressos, dando espaço para que cada candidato faça circular suas propostas. Tudo isso é feito com a intenção de que essas informações cheguem ao conhecimento do público eleitor. É o ideal do jornalismo como Quarto Poder sendo mais uma vez posto em evidência e, além disso, é a amplitude do alcance midiático sendo comprovada e exaltada.
Mas, por outro lado, há os que desacreditam que a relação entre jornalismo e democracia seja benéfica e enxergam como perigoso esse amplo espaço de debates e informações promovido pelos meios de comunicação. Para esses, o fluxo de informações intenso repassado pela mídia não representa um ponto positivo. As informações são submetidas à uma lógica limitante, que obedece mais às regras de mercado do que aos interesses diversificados de um público cidadão. Em resumo, quantidade e qualidade não andam juntos.
Pressupor que o eleitor estará bem informado por ter a seu dispor uma infinidade de informações sobre seus pretensos candidatos é um erro. Quer ver? Nos mesmos debates que promovem a circulação de ideias, também é possível identificar alguns problemas. Os pontos colocados em discussão, com o objetivo de esclarecer os cidadãos sobre propostas de projetos, são escolhidos de acordo com o que os jornalistas, editores e produtores acham coerentes. São eles que decidem o que é importante ser debatido diante dos cidadãos, eles especulam sobre os temas de interesse da população geral e dispõem as informações de forma que os próprios cidadãos absorvam-nas como se, de fato, tivessem essa legitimação.
Diante dessas duas perspectivas, ao eleitor, então, resta respirar fundo e analisar as informações que são postas diariamente a seu alcance. A produção não vai parar. Pelo contrário, ela só tende a aumentar. É preciso, neste momento, deixar de lado a tentação de enquadrar o jornalismo como vilão ou herói e aprender, de uma vez por todas, a usá-lo. Nos portais de notícias, nas redes sociais, nos jornais impressos e nos noticiários da TV, a lógica é a mesma: receber as mais diversas informações é fundamental neste período, mas, de igual importância, é saber localizá-las, filtrá-las e, com a devida responsabilidade, repassá-las.
******
Clara Câmara é jornalista e mestranda