Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As pedras no caminho da direita e da esquerda

“Eu vejo que o Brasil tem hoje uma chance única de três candidatos que vieram da esquerda” (cantora Fafá de Belém em entrevista à revista Veja, antes da morte de Eduardo Campos).

Pode ser que não exista mais direita nem esquerda. E muito menos extrema-direita e extrema-esquerda no Brasil, como disse outro dia a colunista Bárbara Gancia, da Folha de S.Paulo, ainda que a TFP esteja bem viva, pois, pois. Fascismo, então, é um termo a ser reabilitado, como provou outro dia o historiador Leandro Narlock. Mas é impressionante como você pode identificar um lado e outro em nossos comentaristas e editoriais da grande e pequena imprensa brasileira. Mesmo nas questões menos ideológicas possíveis. A direita brasileira defende, assim, o liberalismo (seja lá o que isto for); a esquerda, o Estado. A direita, a Ucrânia; a esquerda, Putin; a direita, Israel; a esquerda, os palestinos, menos o Hamas. No caminho, marxistas viram antissemitas, liberais conservadores, ateus teólogos.

Como entender neste contexto o conflito árabe ou a questão do Irã? A corrupção na China? As guerras civis da Síria e do Iraque? Fica difícil, ainda mais encarando correspondentes estrangeiros que não tiram o pé de Londres. É muito difícil, também, se colocar na posição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quando este, sim, enfrenta uma direita radical em seu país, ao passo que mercenários financiados pelo próprio sequestram e matam jornalistas.

Pegue-se a Argentina de Cristina Kirchner, por exemplo. A unanimidade da direita e centro-esquerda nacional está contra a presidenta de lá e quase chega à totalidade, como aconteceu na Copa. Mas nós, alquebrados leitores, conseguimos saber quem tem razão?

É duro… ver nossos PCBs e PCOs gritando junto com a Fiesp e a CNI. Ou a Iurd e o PRB postados eternamente com o PT. Além de anarquistas insuflados pelo PSDB.

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Zulcy Borges de Souza é jornalista