Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Darwin e o design da notícia

Comer com os olhos é uma expressão usada sempre que algo nos abre o apetite, esteja em um prato, como um filé malpassado com fritas, ou em uma loja, como um esportivo conversível. A notícia também pode ser saboreada com os olhos. E uma explicação para isso está no rabo das andorinhas, diria Charles Darwin (1809-1882). O naturalista britânico dizia que a beleza é biológica e condição básica à manutenção das espécies porque guia a escolha dos parceiros/as. Deduz-se daí que há um traço comum entre a beleza que balança corações e a que atrai o leitor a uma página de jornal bem desenhada.

Darwin desenvolveu tal teoria ao estudar pássaros e perceber que a beleza do macho interfere nas escolhas da fêmea para acasalar. Ele concluiu que “as fêmeas tendem a optar por parceiros de linhagens mais fortes e simétricas” e que “os machos sem adornos ou não atraentes se sairão igualmente bem na batalha pela vida e na luta para deixar uma prole numerosa se machos mais bem-dotados não estiveram presentes”.

De acordo com a teoria, pássaros de variadas espécies desenvolveram bicos maiores, plumagens coloridas, penas alongadas e cantos graves e agudos ao longo dos séculos para terem mais chance de atraírem as fêmeas e se acasalarem. Outras espécies têm comportamento semelhante, segundo o naturalista: a fêmea do peixe-espada gosta de machos de espadas compridas; as andorinhas preferem machos com caudas longas; os pavões com caudas mais elaboradas atraem mais parceiras; insetos e sapos também têm obsessão por tamanho, e ambos fazem som durante o período de reprodução. “Tamanho e intensidade do barulho estão relacionados, e as fêmeas respondem sobretudo aos coaxos mais baixos, que tendem a ser emitidos pelos machos maiores e, portanto, mais fortes, capazes de proteger a prole.”

Também há nas leis da natureza descritas por Darwin os ideais de tamanho (o macho dominante é o maior, e do tamanho derivam associações com virilidade e reprodução da espécie) e de simetria (formas equilibradas agradam mais). Para os animais, afirmava o pesquisador, a simetria é um sinal de bom desenvolvimento, resistência a parasitas, mais anos de vida e fertilidade.

Princípio da regularidade

A pesquisadora norte-americana Nancy Etcoff defende que os humanos também se guiam pela beleza na busca por parceiros/as. No caso dos humanos, observa ela em A lei do mais belo: a ciência da beleza (1999), ser bonito está ligado à preocupação de nunca deixar de ser desejável sexualmente e de não ser alguém que já fora desejado sexualmente. Para Nancy, isso explica o fato de “muitos adultos quererem se passar por adolescentes”, de muitos homens passarem horas puxando ferro nas academias (sinal de virilidade) e de a indústria da beleza crescer acima da média em muitos países do mundo. Segundo a pesquisadora, desde a Antiguidade homens e mulheres marcam o corpo e o enfeitam com objetos de todo tipo para parecerem mais bonitos e mais atraentes sexualmente.

Do ponto de vista do design gráfico, mais tragável aos jornalistas, páginas bem desenhadas são aquelas que obedecem a princípios de simetria e regularidade, diz Bernhard Bürdek em Design: história, teoria e prática (2010).

No jornalismo impresso, um marco do layout de página está no século 19, quando os donos do New York Journal, William Hearst, e do New York World, Joseph Pulitzer, perceberam que o aspecto tipográfico influenciava na venda de jornais e começaram a modificar a primeira página, criando títulos de duas colunas, incluindo subtítulos e, mais tarde, manchetes que ocupavam oito colunas.

No jornalismo online, não se vê ainda o mesmo cuidado visual. Em parte, o problema de deve às ferramentas de edição online (engessam o trabalho), aos publicadores automáticos (abastecem capas internas ou aplicativos) e à instantaneidade do noticiário (gera um volume grande de notícias a ser exposto nas capas).

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Jeferson Bertolini é repórter e doutorando em Ciências Humanas