Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os ‘spin doctors’ do jornalismo eleitoral

O jargão spin doctors, expressão de língua inglesa destacada no título deste artigo, significa especialistas em distorcer contextos, no caso, em favor de um candidato conforme nos chama a atenção o restante do título. E o jornalismo eleitoral tem-se propagado desta forma. Quem não se lembra das eleições para presidente dos Estados Unidos em 2000? George W. Bush e Al Gore eram concorrentes diretos, republicano e democrata, respectivamente. Os EUA aguardava ansiosamente a contagem dos números, a mídia sobrepunha momentos de Bush e Al Gore. Até que, no estado da Flórida, Bush recebe 277 votos e Gore 266 do Colégio Eleitoral – porém há uma controvérsia de 25 votos que deveriam ser contabilizados novamente. Não houve a premissa e Al Gore, com mais de 500 mil votos à frente de Bush, perdeu as eleições de 2000 – dados retirados do New York Times.

Os eleitores que possuem certo grau de criticidade e aqueles que só têm seu senso comum como parâmetro de análise ficam às cegas perante o bombardeio informativo, mas pouco qualitativo, das propagandas eleitorais. O horário eleitoral equipara-se – com a presença dos spin doctors – aos espetáculos da política do pão e circo, tão populares na Roma antiga. Só que agora alimentam os espectadores com uma torrente hipnotizante de efeitos especiais, músicas alucinógenas e candidatos-personagens num frenesi alienante e midiático no horário eleitoral. O candidato travestido de um pseudo-nacionalismo te chama pra urna. Logo após a lavagem cerebral.

O programa partidário da maioria dos candidatos é um estratagema para a persuasão do cidadão. O jogo de cartas que o jornalista promove em divulgar fatos, história, contextos e referências de quem pleiteia uma vaga no poder público como representante da nação é uma catástrofe à moral humana. O dinheiro sucateia a ética profissional e transforma-os em adventos políticos. Mas, calma lá! O sistema político que se encontra corrompido não é culpa dos jornalistas, e sim, a maneira como esses profissionais se engajam no modelo distorcido que lhes é apresentado!

Jornalistas “pós-pagos”

O jornalista, hoje, não vive mais “da” política, e sim, “para” a política; o pai da moderna política, Max Weber, estava certíssimo quando afirmou isto. E o cenário de estratégias e restrições de informações a respeito dos candidatos aos cargos públicos torna uma análise dos acontecimentos eleitoreirosmais difícil de compreender. Tornou-se um jogo de xadrez em que a população não sabe definir o “certo” do “menos errado” e acaba avançando seus peões de forma inocente.

E para que fazer esta bagunça, deixar o eleitor mais confuso do que ele já é? O público tornou-se um stalker,voyeur,peeping tom desta lambança eleitoral, que muita das vezes, é recomendada para maiores de 18 anos. E há, infelizmente, por trás disto, uma equipe de jornalistas preparados para serem insiders – detentores da informação. E nós? Ficamos na mesmice popular. Quem quiser informação, que vá atrás! Pois, esperar ela sentada em frente à TV é impossível!

George Orwell nos confirma, em A revolução dos bichos, que existem animais iguais aos outros, mas alguns são mais iguais do que outros. A mesma coisa é o jornalista: há aqueles propagam e há aqueles são “pós-pagos” de partidos eleitorais.

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Pedro Henrique Lorena é professor de inglês