Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Da riqueza à pobreza da linguagem no Brasil

A semântica é um ramo dos estudos linguísticos hoje considerado multidisciplinar e amplamente interativo, ainda bem pouco explorado pela psicologia e psiquiatria social, embora tenha uma complexidade que interessa até a criminologia. Por isso, a explosão linguística provocada pela internet emprestou à semântica uma roupagem capaz de empolgar até um linguista da estatura de Noam Chomsky (EUA).

A velocidade imposta pela internet delineou, fixou os esteios e a dinâmica da linguagem. O manancial, a abundância de informações planetárias estabeleceu limites tão inaceitáveis a ponto de tornar as pessoas seriamente dependentes das comunicações eletrônicas – ou você fixa seu tempo de uso do aparelhinho ou se torna dependente dele e adoece.

Se nas redes sociais a pulverização linguística alcançou níveis insondáveis e tão coloquiais que não é estranha a identificação de um comportamento tribal entre as pessoas, na campanha eleitoral brasileira recém-encerrada os próprios candidatos, com suas posições políticas, ideológicas e comportamentais, atraíram para seus nomes um olhar da semântica tão profundo a ponto de, se levarem a sério a consequência, serem obrigados a modificá-los em cartório após as eleições deste domingo.

Foi assim que Lula passou a ser sinônimo de farsante, Dilma, de marionete, Marina, de coragem, Aécio, de demagogo, Iase, de ilusão, Zé Maria, de sonhador, Collor, de decepção.

Quem quiser apreciar em maior profundidade as transformações sofridas pela sociedade brasileira nas últimas cinco décadas dará à Sociologia e à Antropologia um grande reforço se usa a semântica. Pois há casos, como o dos nomes das pessoas, em que a mudança, a oscilação e a flutuação de identidades alcançam patamares realmente surreais, a exigir, em alguns deles, que elas se submetam a um tratamento psiquiátrico e psicanalítico que possivelmente lhes recomendará a realização de cirurgias faciais para as devidas alterações nos seus traços fisionômicos.

******

Reinaldo Cabral é jornalista e escritor