Nada acontece no Brasil sem passar por quatro veículos de comunicação que oligopolizam a imprensa tradicional: o Estadão, da família Mesquita; o Sistema Globo, da família Marinho; a revista Veja, dos Civita, e a Folha de S.Paulo, patrimônio da família Frias. É absolutamente ingênuo acreditar em imprensa isenta e imparcial. Todos são movidos por interesses econômicos e essencialmente ideológicos.
Só para situar ideologicamente esses órgãos da imprensa, em 1964, quando o país foi jogado às trevas da ditadura militar, o novo regime recebeu as boas vindas em editorial de O Globo escrito pelo próprio Roberto Marinho. Júlio de Mesquita seguiu na mesma linha, e a Folha chegou ao absurdo de emprestar carros da redação ao sistema vigente para transportar presos políticos. A Veja é um capítulo à parte. Sem ética, sem escrúpulos, sem limites, sua linha editorial transita pelos trilhos do reacionarismo canibalesco. No meio acadêmico e intelectual, a revista dos Civita é considerada o “esgoto” da mídia nacional.
A sociedade brasileira é profundamente estratificada. Uma minoria privilegiada, com residência oficial no topo da pirâmide, abocanha 50% da renda nacional. O resto fica com o resto. Esse segmento social, agrupado na Febraban, Fiesp, agronegócio e grande comércio, concentra no bolso o poder econômico; nas mãos, o midiático. E detém ainda outro poder, não menos importante: o pleno conhecimento da realidade econômica, política e social. É o único dos segmentos sociais que enxerga com consciência tudo o que ocorre ao longo da pirâmide.
Com esses três poderes sob seu domínio, essa minoria privilegiada, que atende pelo nome de elite, emplacou todos os presidentes do Brasil no período compreendido entre Tomé de Souza e Dilma Rousseff. Registre-se, no entanto, três (gratas) raras exceções: o mandato democrático de Getúlio Vargas (50 a 54), o governo João Goulart (61 a 64) e o período do lulopetismo, de 2002 a 2014. Os três, que jogam no time da esquerda, escaparam das garras do pessoal que habita a Casa-Grande.
Complexo elite/mídia não perdoou
Getúlio cometeu o pecado de se aproximar dos trabalhadores; “suicidaram-no”. João Goulart meteu-se a besta e quis implantar as reformas de base; golpearam-no. Já Lula cometeu a enorme besteira de melhorar a qualidade de vida de 40 milhões de brasileiros. O massacre midiático em cima do mensalão petista só não derrubou o presidente porque Lula é Lula (85% de aprovação no 2º mandato)!
O jornalista Lira Neto, biógrafo de Getúlio, esmiúça a gigantesca pressão que a imprensa da época exerceu para forçar a queda do presidente democraticamente eleito. O uruguaio René Dreifuss, no livro 1964: A Conquista do Estado – Ação Política, Poder e Golpe de Classe, fala dos recursos de empresas brasileiras e americanas (300) abarrotando os cofres do Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) para financiar setores da imprensa nativa e estimular manifestações populares contra o governo constituído de João Goulart.
O conluio mídia/elite sempre agiu assim. O antipetismo xiita, entranhado na cabeça alienada de parcela importante da classe média brasileira, está diretamente conectado com a linha editorial do oligopólio midiático nativo. É o pessoal que durante o dia bebe na cacimba de Veja, da Folha ou do Estadão, e à noite come no cocho do JN.
A simples tentativa da compra de um dossiê (1996) e o lobby praticado pelo filho da ministra Erenice Guerra (2010) gerou um bombardeio tão intenso na mídia nativa, que a reeleição de Lula e a eleição de Dilma tiveram que ser decididas no segundo turno. Há exatos três meses, o caso Petrobrás visita com insistência as manchetes dos jornais, das revistas e dos telejornais do oligopólio. Batem todo dia, de manhã, à tarde, à noite e de madrugada.
Corria o ano da graça de 1997 e os tucanos, surfando na onda do Plano Real, se acharam no direito de alterar a própria Constituição para garantir a reeleição de FHC. A metodologia utilizada foi de fazer inveja ao mensalão petista: compraram o voto de 130 parlamentares a 200 mil reais por cabeça. Do ponto de vista midiático é nitroglicerina pura. Isso, se fosse o PT!
A história registra que o presidente sociólogo, voando em céu de brigadeiro, faturou sua reeleição no primeiro turno. É assim que funciona.
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Sebastião Costa é médico