Um dos momentos mais divertidos na minha agência ou nas aulas para alunos de comunicação é quando começo a contar como fazia assessoria de imprensa em tempos sem a internet. Isso porque a atual geração de comunicólogos sequer imagina um mundo sem uma confirmação de recebimento de e-mails ou mesmo troca de mensagens via skype.
Uma das grandes novidades da minha época de estagiária era o fax. Com ele atrelado a um sistema de computador conseguia programar o disparo dos releases durante a madrugada e me organizava para fazer follow up alguns dias depois. Isso porque, no dia seguinte, imprimia na impressora matricial a lista de todos telefones que tinham dado erro de transmissão e passava muitas horas reenviando esses releases um a um para que todos os recebessem. O fax era tão importante que tinha uma mesa própria com cadeira, já que passávamos muito tempo ao seu lado.
Me lembro como se fosse hoje a folha de rosto sendo preenchida a lápis com cada um dos nomes e os protocolos de recebimento que recebia após o bipe final de envio. O follow up também era bem mais demorado porque o único contato que tínhamos com as redações era via telefone.
Nosso arquivo de imagens de clientes e produtos era uma grande pasta de plástico preta com fotos impressas coloridas e P&B e também slides. Muitas vezes mandava pelo correio para todo o Brasil envelopes com um ou mais slides e o release impresso. Tínhamos uma área com caixinhas para colocar o slide para que ele não deteriorasse. Quando um jornalista de outro estado solicitava mais opções de imagens, novamente enviava via correio os benditos slides.
Disquete e impressora
Naquela época o acesso às redações era mais fácil e comumente fazia visitas aos jornalistas levando debaixo dos braços pastas de press-kits sobre meus clientes. Hoje em dia isso seria impossível, levando em consideração a quantidade de assessores versus o número de repórteres.
O clipping também era um capitulo à parte. Na época, eram poucas as opções de fornecedores e muitas vezes tínhamos um delay de um dia a uma semana para recebermos matérias de outras cidades ou estados. Muitas revistas (segmentadas ou não) e muitos jornais chegavam dobrados em envelopes pelos Correios. Com isso, o horário em que o carteiro passava influenciava a minha programação de trabalho do dia.
Os computadores que tínhamos disponíveis também eram infinitamente mais lentos que os atuais, mesmo com a mais moderna tecnologia da época. Conforme a popularização da internet, algumas máquinas passaram a ter acesso discado à rede, mas naquele tempo não podia ficar conectada o dia todo.
Os mailings eram atualizados de tempos em tempos por um sistema que chegava via disquete e a impressora era carregada com aquele papel contínuo e somente podia ser usada em momentos em que não tivesse reunião na empresa e ninguém ao telefone porque ela era extremamente barulhenta.
Acreditem se quiserem.
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Daniela Barbará é jornalista, diretora de Operações da EVCOM