A tempestade perfeita anuncia-se para nossos veículos de comunicação. Alguns ventos são desafios recorrentes e já fazem parte do dia-a-dia do negócio:
** produzir e entregar conteúdos atraentes, o que significa investir mais e mais em tecnologia e pessoas;
** atrair e fidelizar públicos para esses conteúdos;
** financiar a produção desses conteúdos;
** alcançar algum lucro.
O cenário já é adverso. Com custos crescentes e qualidade de conteúdos, em geral, decrescente, raras vezes a fidelidade foi tão inconstante e os resultados tão sofríveis. É grande a tentação de querer fazer tudo para todos os públicos em qualquer lugar e em qualquer plataforma, sem foco e disciplina, numa estratégia de dispersão errática de energia que, às vezes, resulta em muita galinha para pouco ovo.
E riscos adicionais se anunciam para quem está no negócio:
** avanço sisífico da fronteira tecnológica; quanto mais perto se chega do ótimo e já o melhor bate à porta, tornando cruciais a estratégia de atualização de tecnologias e a visão de futuro;
** concorrência microcelular de diferentes plataformas em diferentes mercados, exigindo dos grandes uma tática de guerrilha que canibaliza o negócio, tornando ruins o retorno do anunciante, a lucratividade do veículo e a satisfação do público que, ao final, paga toda a conta;
** ambientes adversos nos campos social, econômico, concorrencial e político: no social, a crescente antipatia popular pelas instituições e a impaciência dos poderes com os jornalistas e dos jornalistas com os poderes; no econômico, ajuste fiscal severo, risco de apagões e perspectiva de baixo investimento/baixo crescimento; no concorrencial, implantação da nova aferição de audiências/reduzida confiança entre os players; e, no político, a discussão da anunciada Lei de Meios num momento de pouca tolerância das partes para o diálogo.
Que o ar fresco sopre depois da tempestade.
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Eduardo Simbalista é jornalista