O programa Amor & Sexo é uma mistura de humor inteligente (de Xico Sá), com a beleza da apresentadora, as informações da Regina Navarro Lins e com um monte de besteirol dos outros. Resolvi postar essa minha descoberta na rede social dizendo que Amor & Sexo era disparado o melhor programa da Globo. Para minha surpresa, mais de 20 pessoas curtiram meu post, além de vários comentários. Porém, um deles me chamou a atenção. Um professor, gente boa, que debateu política durante toda a campanha comigo, tentou usar do meu gosto humorístico para desqualificar o meu posicionamento político. Ou seja, se gosta “disso”, então é por isso que votou em “fulano”. Parecia improvável, mas era real.
A campanha de 2014 foi de longe a mais suja da história da nossa jovem democracia. Suja em todos os meios de comunicação, nos debates, mas, principalmente, nas redes sociais.
A Veja, notadamente a mais declarada revista de oposição, tentou de tudo. Desde a capa com Aécio abrindo a jaqueta com o botão verde de “Confirma” no peito, em 2010, tentou fazer do candidato do PSDB a cara da mudança. Depois mudou, com a queda do avião e a subida de Marina Silva nas pesquisas. A capa emblemática “Marina Presidente?” falava muito a respeito da mudança editorial da revista quanto ao seu “voto”. O PT partiu pro ataque contra Marina e deu certo. A Veja reagiu com a capa “A fúria contra Marina”, quando sua nova protegida começou a despencar nas pesquisas. Intercalando as revistas, o mais novo maior escândalo da história do Brasil, o “Petrolão”. Nada disso adiantou. Dilma e Aécio foram pro segundo turno.
Na Bahia a revista paulista abusou. Às vésperas da eleição para governador, quando quase todos os institutos de pesquisas davam vitória fácil de Paulo Souto, do DEM, sobre o petista Rui Costa, uma capa bombástica sobre o caso Dalva Sele Paiva. “A arte de roubar os pobres”, estampava a matéria que afirmava que a denunciante revelaria como a cúpula do PT desviava dinheiro do Minha Casa Minha Vida para campanhas. Bem, as provas só chegariam depois das eleições porque Dalva estava na Europa, depois de passar dois anos praticamente falida. O PT foi pra cima, a campanha esquentou, curiosamente Rui venceu no primeiro turno e as provas… ainda não chegaram da Europa.
A virada e o desespero
No cenário nacional Aécio despontava como o “Fator Surpresa”, em mais uma Veja. Segundo turno é uma nova eleição, o tucano disparava na frente nas pesquisas e parecia que as denúncias do doleiro preso iriam dar resultado. A delação premiada, sob segredo de Justiça, do doleiro e do ex-diretor da Petrobras, todos os dias estampavam jornais e revistas, nitidamente com foco eleitoral. Dois prisioneiros eram os maiores cabos-eleitorais da oposição, graças a alguns veículos de comunicação. Tudo parecia ir bem, até que…
Aécio começa a cair nas pesquisas. Dilma se reerguia mesmo depois de tantas pancadas da imprensa. A “boca do jacaré” nas pesquisas ia aumentando no Datafolha e Ibope. Apenas o IstoÉ/Sensus, (do ex-vice-governador mineiro) dava como certa a conquista do peessedebista, com cerca de 17% de frente. A campanha se acirra nas redes sociais. Anti-petistas, marineiros e tucanos se unem numa força-tarefa contra a reeleição da presidente. Todos contra os “petralhas”, “Diga sim ao B45IL e não a CU13A”, “não queremos virar uma Venezuela”, “só vota no PT quem é burro ou ganha Bolsa-Família”, “Fora o Comunismo”, “Fora Dilma e leve o PT com você”, “diga não Bolsa-Prostituta dos petista”, “quem tem cultura não vota 13”, “NãoVaiTerCopa”, “o Filho de Lula é dono da Friboi”, “o irmão de Dilma é funcionário fantasma”, “é preciso a alternância de poder”, “fora médicos cubanos”, “só nordestino burro e sustentado pelo estado vota em Dilma”, “você sabia que já existe um exército cubano no Brasil pra tomar o poder, caso o PT perca?”… E nesse clima veio a bala de prata da Veja. A capa que sairia no domingo da eleição, “vazou” (patético) na quinta. Dilma e Lula sabiam do roubo na Petrobras. Era o último ato desesperado de Veja, mas saiu pela culatra. A capa virou meme de redes sociais. A credibilidade da revista virou sinônimo de piada para os seus não-leitores. Foi cômico. E trágico. No dia da eleição, via Whatsapp, chegava o relato de um parente de um médico que cuidava do doleiro denunciante. A mensagem afirmava: o PT envenenou Youssef. Na verdade, o doleiro ressuscitou no segundo dia, mas isso ninguém precisa ficar sabendo…
Fim de papo
Dilma venceu. Repercussão? O ódio contra o povo nordestino reapareceu, como sempre. O país está dividido. “Dois perderam ganhando” e a outra “ganhou perdendo”. Malditos mortos-de-fome, capachos, bovinos, atrasados, ignorantes, despolitizados. Minas Gerais e Rio de Janeiro entraram no Nordeste, esse ano, também. Uma minoria de paulistas pediu a separação do estado do país. Eles realmente acreditam que o Brasil seja a capital de São Paulo. “Intervenção Militar Já”, “pelo fim da democracia”, “impeachment da presidente”, “Obama nos salve dos comunistas bolivarianos”, passeata na Paulista, ofensas no Facebook. O PSDB pede a recontagem dos votos.
Nas redes, ex-amigos escreviam textualmente “tenho nojo de gente como você, que vota no PT”. Até eleitores de Aécio, no nordeste, sofreram bullying e xingamentos. E as coisas vão esfriando. Eis que um amigo vem questionar meu gosto humorístico para justificar meu voto. Juro, não votei em Tiririca, professor. Não misturo as coisas.
A vida continua, daqui a dois anos teremos novas eleições e deveremos ter tudo isso de novo. Mas em 2016, façamos uma campanha com menos ódio e mais Amor e Sexo para felicidade geral da nação.
< ****** Erick da Silva Cerqueira é publicitário