Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Diferentes, mas complementares

Quando uma lei é promulgada, um notório criminoso é colocado na cadeia ou um julgamento por danos morais condena os veículos de imprensa – eis exemplos corriqueiros de quando o jornalismo e o direito se confundem. São irmãos de ciências humanas, porém frutos que caíram longe um do outro. Ao mesmo tempo, complementam-se a fim de participar ativamente da vida das pessoas, seja para noticiar acontecimentos, seja para condenar os envolvidos.

O direito é feito de um linguajar próprio, complexo demais para um prosaico cidadão entender. A mediação de um advogado se faz necessária na medida em que a verborragia jurídica separa os operadores do grande público. O jornalismo, de outra feita, prima por ser claro. O mundo é feito de especialistas. Cumpre ao jornalista interpretar a expertise dos entrevistados e traduzir, de forma menos apurada, mais simples, carga informativa suficiente para que o receptor possa formar sua própria convicção sobre determinado assunto.

O texto das duas profissões, igualmente, não se bate. Consegue imaginar uma matéria para além de 50 páginas? Talvez um livro-reportagem, e só. A objetividade faz o carisma do repórter, que conquista a audiência na construção social da notícia, em ritmo quase industrial. No direito, dependendo da demanda, as peças podem chegar às centenas; os processos, aos milhares de páginas. O caso concreto exige tamanhos volumes, buscando atingir essa instituição enigmática chamada justiça.

Falando em justiça, a imprensa é apressada em julgar. Traz informações que, na sequência dos acontecimentos, podem ser desmentidas. O risco fica no impacto de uma grande manchete ou de uma grande escalada de notícias. Em muitos casos, a retratação não carrega a mesma intensidade da ânsia de uma denúncia. Destarte, pessoas saem prejudicadas, oprimidas por uma opinião pública que repercute o que a mídia veicula.

Justa e igualitária

O direito é perito. “Justiça é dar a cada um que é seu.” Nem sempre é possível, contudo, em razão de inúmeros fatores: juízes tendenciosos, incipiência de provas e péssimos advogados. Ainda assim, é um sistema eficaz, que luta com todas as forças para dirimir o erro. Não se condena quando não há certeza do fato imputado a um indivíduo; in dubio pro reo. E a hierarquia do processo ainda propicia novas opiniões, mediante sede de recurso.

Em ambas as profissões há os aleijados de caráter. No jornalismo, magistrados sem diploma decidem sem o devido processo legal. Afirmam que a mídia é o quarto poder e, assim, ela englobaria todos os outros, sendo mais poderosa que o próprio Judiciário. Há também os juristas insólitos em trato jornalístico. Veem um número nas pessoas; não têm a malemolência da entrevista. Atuam como um robô que nada mais faz do que relativizar provas.

Ser jornalista é não se privar em uma única área do conhecimento, mas partilhar de todas. A multidisciplinaridade percorre assuntos como legislação, saúde, governo – entre outros – levando em conta um salutar objetivo final: a compreensão do público. Esse público que também é alvo do direito, sob outro enfoque. Se a Constituição de 1988 surgiu para “(…) assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça (…)”, então os juristas são necessários à consagração de nossas garantias legais.

Direito e jornalismo, portanto, são complementares. Duas belíssimas carreiras, desde que desempenhadas dentro de padrões éticos. Pela lei ou pela informação, o essencial se concentra na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Somente assim é possível fazer um mundo melhor.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo