John Oliver, 37, da rede americana HBO, teve seus 15 minutos de fama no Brasil ao explicar, melhor que a imprensa nativa, os desmandos e a corrupção da Fifa e por que, ainda assim, ele não conseguiria perder uma única partida da Copa do Mundo.
Mas diversos outros vídeos disponíveis no YouTube justificam o sucesso do comediante. Com leveza e clareza, dados bem apurados e temas fora das manchetes, ele já levou seu escrutínio à pena de morte, os desvios de verbas das loterias públicas, as esquisitices da autora libertária Ayn Rand e explicou a importância das eleições da Índia –isso, na insular TV americana.
Até o tema de neutralidade da rede serviu para um quadro longo e divertido nas mãos de Oliver. Ele aborda de três a quatro temas em 30 minutos de programa –e dedica longos 13, 14 minutos a um único assunto. Quem disse que texto longo espanta audiência?
Sua graça e sucesso abrem portas: ele já entrevistou do cientista Stephen Hawking ao diretor da Agência Nacional de Segurança (NSA).
Virou programa obrigatório para quem quer entender a era de ouro da TV americana, que vai além dos seriados espertos e bem escritos, que deixaram os filmes de Hollywood pra trás. Como o cinema argentino também escancara, um texto bom faz toda a diferença.
Olhar acadêmico
Especialmente quando o jornalismo televisivo nos EUA enfrenta a mesma crise que já atinge jornais e revistas há anos. Audiências minguantes, perda de relevância e a juniorização das equipes que só conseguem se debruçar em alguns poucos temas.
A CNN virou a Ebola News Network, após meses tentando descobrir os desaparecidos do voo da Malaysia Airlines.
Se o jornalismo, com tanta repetição e superficialidade, mais confunde que explica, os novos comediantes explicam e ainda fazem rir –o melhor antídoto para evitar que parte do público opte pela alienação do que se inteirar das desgraças do mundo.
Oliver continua a tradição recente de comediantes-jornalistas como Jon Stewart, o jornalista mais influente do país –seu programa, “The Daily Show”, é a principal fonte de informação para americanos entre 18 e 35 anos. E de Stephen Colbert, que ironiza os apresentadores da ultraconservadora Fox News.
A universidade americana –onde altos salários dependem mais de produção intensa e antenada com o mundo exterior do que apenas tempo de serviço– já tomou nota e diversos livros recentes analisam o fenômeno de quem sabe nos fazer rir da realidade.
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Raul Juste Lores é correspondente da Folha em Washington