Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sim, somos feitos de gelo sideral

Todo fim de ano, as revistas semanais – entre elas, a Veja – fazem uma edição retrospectiva, requentando as matérias do ano cuja finalidade, penso, é não interromper a continuidade das edições causadas pela folga dos seus funcionários causada pelo recesso dos feriados do final de ano. Muito justo.

Confesso que este ano me bateu certa ansiedade porque a notícia que mais me interessou foi aquela da sonda europeia Rosetta, em conjunto com o robozinho Philae, encontrar e descer num cometa de nome complicadíssimo, 67P/Churyumov-Gerasimenko, em 12 de novembro último. Até então, os cientistas tinham retirados amostras do solo lunar, mas a Lua, convenhamos, é um corpo celeste sem água e, portanto, sem vida. Também os meteoritos recolhidos aqui mesmo são secos e estéreis. Já os cometas são por definição, grandes massas de gelo (cujo derretimento perto do sol causa aquelas belas caudas) e poeira.

Já dizia Carl Sagan que “nós somos feitos de poeira de estrelas”. Peço perdão ao mestre lá no céu para corrigi-lo na afirmação mais condizente de que “nós somos feitos de água de cometas”, já que nossa constituição apresenta na sua absoluta maioria a presença deste elemento. Supõe-se que toda essa aguarada (nos três estados físicos) de nosso planeta tenha vindo do espaço sideral no “rabo de cometas”.

A espetacular novidade anunciada pela agência europeia foi a constatação da presença de moléculas com carbono nas amostras examinadas. Ora, aprendemos na escola através da Química Orgânica que estas estruturas são, sim, a base da vida, principalmente se contiverem aminoácidos. Não era o que almejávamos com toda essa parafernália de discos voadores e de visitantes alienígenas? A consequência disso tudo é que podemos agora dizer categoricamente que nossas esperanças de não estarmos sozinhos no Universo vão se concretizando positivamente.

A presença da vida no Universo

Desde tempos de professor de Física (hoje aposentado), sempre remoí a ideia de que a vida deveria ser um constituinte universal, tal como se considera a matéria e a energia. E se assim for feito, ela – a vida – bem que pode estar distribuída por este mundão de Deus, o Universo. Veja que não estou me referindo ao organismo vivo porque este, sim, é constituído de matéria e energia (e claro, de vida). Desta maneira, temos que pensar na “vida” como um terceiro vértice daquilo que faz todo o Universo. Sabemos que a unidade de matéria (que ainda é matéria) é o átomo e a unidade de energia é o quantum (foto para a luz). Neste raciocínio, permitam dar o nome da unidade de vida de “sopro” (tirado da sabedoria popular que diz, de um moribundo, “só lhe resta um sopro de vida”).

Não, isto que discuto agora (a vida como constituinte universal) e que se anuncia com a exploração do cometa 67/P não é uma teoria ou hipótese porque, por mais surpreendente que se imagine, comprovei-a praticamente em laboratório: selei algumas sementes de feijão hermeticamente numa ampola transparente, com nutrientes e água e a pesamos (numa balança de precisão) por um período. Surpreendentemente, a massa total desse sistema, em vez de aumentar com o crescimento das plantinhas, diminuiu progressivamente. A conclusão é obvia: à medida que a planta adquire vida, rouba do sistema matéria e energia para fazê-lo.

Há anos tento aproveitar as oportunidades para revelar esta minha – digamos – descoberta. Aqui mesmo, neste Observatório, publiquei em 2012 o artigo “A partícula do diabo“, onde conto tudo isto a reboque da descoberta da Partícula de Higgs. Agora estou publicando uma ficção chamada O Gênio que Escrevia com Números onde também aproveito para abordar a questão.

Por tudo isto, convido o leitor a acompanhar os jornais e revistas sobre a análise das informações sobre a presença da vida no Universo. É tão fascinante como ler um bom livro ou assistir a um filme de ficção científica.

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Luiz Ernesto Wanke é professor aposentado