“Minha arma aqui na Câmara é minha palavra. Você tem que chamar atenção. Se não chamar, ninguém vai assistir você.” A frase é do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), em entrevista concedida na semana retrasada à Rádio Gaúcha, e exemplifica como a política acontece, cada vez mais, na onipresença da mídia. A comparação da palavra com a arma, feita por Bolsonaro, é uma defesa do discurso realizado no plenário da Câmara no dia 9 de dezembro, quando o parlamentar disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque “ela não merece”. Detentor de um discurso conservador e reacionário, Jair Bolsonaro têm os holofotes garantidos cada vez que profere ataques a minorias ou defende os crimes da ditadura militar no Congresso Nacional.
Os políticos não apenas usam a mídia como trampolim de visibilidade para suas atuações, mas também são estimulados por ela a recriarem práticas para atrair a atenção do público. Bolsonaro é um exemplo de personagem com visibilidade exacerbada proporcionada pelos meios de comunicação. Cada agressão verbal feita pelo parlamentar é reverberada pela mídia, ecoando ainda mais forte, em um ciclo que gera ações e reações onde, quase sempre, há pouco debate e muita briga.
Detentora do poder de publicizar, a mídia não é apenas um receptáculo para os políticos, já que com sua lógica própria, ela insere novos padrões de comportamento, influenciando e modificando práticas próprias da política, incluindo a linguagem. Sem um palco onde suas posições pudessem reverberar, Bolsonaro não teria terreno frutífero para expor concepções que ferem o bom senso. Com as redes sociais para propagar o conteúdo gerado originalmente pela imprensa, o poder de fogo dos defensores de Bolsonaro – uma grande parcela, surpreendentemente, de jovens – aumenta, bastando apenas uma fagulha para desencadear um processo onde discursos de ódio são propalados embalados em uma máscara de livre direito à informação.
Mecanismos de controle
Tendo como matéria constitutiva os ritos e o lúdico, a relação entre espetáculo e poder político se confunde. A visibilidade não deve ser confundida como sinônimo de espetacularização na política, ou seja, apenas mostrar não significa, necessariamente, tornar o ato político um espetáculo. Neste sentido, muitas vezes a narrativa do fato se sobrepõe ao acontecimento.
O termo espetáculo pode ser definido não apenas como um conjunto de imagens, mas como uma “relação social entre pessoas, mediada por imagens”, segundo o pensador francês Guy Debord. Encenação e realidade se alimentam uma da outra, tendo como linguagem comum a imagem. A aparência é essencial para a constituição do espetáculo, que se mantém, sobretudo, partindo da contemplação do receptor tanto em cenas de entretenimento como naquelas de violência.
Utilizando-se das estratégias do espetáculo para prender a atenção do eleitor, os políticos também são atores nos mecanismos de controle do espetáculo. Crises no Congresso Nacional, Comissões Parlamentares de Inquérito, e constantes ameaças à manutenção de representantes políticos por causa de “escândalos” exemplificam a fusão entre as ferramentas usadas para produzir espetáculo e política. O entendimento da sociedade ocorre agora através da ótica de uma mídia industrializada, onde a reestruturação do real acontece por intermédio de tecnologias que produzem mercadorias culturais cuja principal característica é a estética.
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Sávia Lorena Barreto Carvalho de Sousa é jornalista e mestre em Comunicação