A estreia de “Os Simpsons” em 17 de dezembro de 1989, com um especial de Natal abrindo sua primeira temporada, marcou o início do fim do domínio das três grandes redes (CBS, ABC, NBC) na TV aberta americana –e o início da ascensão do magnata Rupert Murdoch, da rede Fox.
Com a série em horário nobre, a Fox, até então sem abrangência e audiência nos Estados Unidos, se firmou como uma nova grande rede. E abriu caminho para o canal de notícias Fox News, que empurrou a política americana para o extremismo das últimas duas décadas.
Mas “Os Simpsons”, que desde o princípio contou com liberdade estabelecida em contrato com a Fox, é também responsável por outra mudança, talvez mais significativa, na mídia americana. Foi o pontapé do boom de animação adulta e da sátira que se vê por todo lado, hoje, não só na TV.
É o que escreve Chris Turner em “Planet Simpson – Como uma Obra-Prima do Desenho Documentou uma Era”, o livro de referência sobre a série. De “South Park” ao “Daily Show”, passando por muito da internet, o que veio depois seria devedor de seu criador, Matt Groening.
A família de Homer Simpson nasceu em 1987, em desenhos curtos de Groening para o programa da comediante Tracey Ullman. Eram poucos minutos, sem maior repercussão, daí a primeira temporada de 1989/90 ter sido aprovada pela metade, um teste desconfiado da Fox.
Episódio autorreferente
Mas na primeira noite a audiência disparou, e meses depois liderava o horário. A primeira-dama Barbara Bush reagiu: “É a coisa mais idiota que já vi”. Marge Simpson enviou carta dizendo que sua família fazia o melhor que podia. Barbara se desculpou e elogiou a mãe de Bart e Lisa.
Daí até 1997, “Os Simpsons” viveu o que Turner chama de “era de ouro”, tornando-se “a mais importante instituição cultural de seu tempo”. Esse tempo, porém, passou. Na última década e meia, até a 26ª temporada, que está na metade, são poucos os momentos memoráveis.
Mas a série mantém retorno elevado, em publicidade e licenciamento, e a Fox fechou contrato para a 27ª temporada –e tem os direitos até 2082. Os produtores já não arriscam previsões de quando ela vai acabar. Falam em dois anos, “talvez quatro, talvez mais”.
Sobre essa longevidade, a 7ª temporada, em episódio autorreferente, outra marca da série, já se perguntava, em dezembro de 1995: “Quem sabe que aventuras os Simpsons terão entre hoje e o momento em que o programa começar a dar prejuízo?”
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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo