Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O que está faltando para a imprensa árabe

A maioria da imprensa árabe – seja em versão impressa ou online – depende em grande parte das notícias que as agências nacionais ou internacionais produzem. O único investimento real é destinado a colunistas cujas opiniões e análises refletem a linha editorial especial da editora e dos proprietários do veículo.

Este apoio desproporcional para colunistas em vez de repórteres pode ser mais bem visto quando você perguntar a qualquer pessoa que acompanha a mídia árabe para citar um repórter particular ou jornalista investigativo ligado a um jornal particular.

Olhe para as primeiras páginas da maioria dos jornais árabes –em forma impressa ou online– e você raramente vai encontrar um nome recorrente de um repórter que é especializado e escreve exclusivamente para esse jornal. Poderá, no entanto, muitas vezes, ficar sabendo os nomes de colunistas famosos. A maior parte da primeira página e outras páginas de notícias fica cheia de notícias provenientes de serviços de notícias nacionais ou internacionais.

É raro ver na maioria dos jornais um repórter da equipe que pesquisa e escreve exclusivamente sobre uma questão política ou diplomática local. Em geral, portanto, a imprensa árabe é dependente de colunistas, com raras matérias assinadas por um repórter da equipe.

Se você seguir as reportagens de rádio da BBC Árabe, vai notar um fenômeno estranho. Quando reportam sobre o que os jornais de língua árabe publicaram em Londres, eles costumam citar as manchetes desses jornais. Quando refletem a imprensa britânica em inglês, você vai ouvir detalhes de notícias exclusivas. Isto significa que a única coisa original nas páginas dos jornais de língua árabe revistos pela equipe BBC Árabe são as manchetes. As reportagens detalhadas são normalmente publicadas na imprensa britânica, que desenvolveu ao longo dos anos a reputação de jornalismo profissional.

Investigações exclusivas

Um dos tipos mais importantes de reportagens que muitas vezes você ouve falar na imprensa britânica são as reportagens de interesse humano. Por outro lado, a imprensa árabe muitas vezes foca em números em vez de histórias pessoais. Por exemplo, você pode ler na imprensa árabe que cerca de 40 iraquianos foram mortos ou 20 casas no Sinai foram demolidas ou o julgamento de 15 extremistas na Arábia Saudita, mas você nunca chega a conhecer e aprender sobre a vida de qualquer uma dessas pessoas.

Humanizar essas histórias transforma o assunto de um número a carne e osso. Você começa a ouvir a história de um desses iraquianos cuja vida foi interrompida por essa explosão ou o suor, lágrimas e memórias que levaram uma família particular no Sinai a construir a casa que agora foi destruída. Humanizar a história vai contar como o extremista que agora está sendo julgado chegou a essa posição particular. Ir além da notícia nos conta a história que precisamos saber, e não apenas o número.

Alguns leitores podem gostar de ler este artigo, mas é importante saber que é simplesmente um artigo de opinião. Jornalismo não é feito de colunas e opiniões; mas de notícias, fotos, análises e investigações originais exclusivas.

Nós seguimos e lemos milhares de veículos de comunicação, seja na impressa ou eletrônica, no mundo árabe. Mas se esses meios de comunicação publicassem apenas reportagens exclusivas, quantos permaneceriam?

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Daoud Kuttab foi professor de jornalismo da Universidade Princeton. Ele é diretor da Rede de Mídia Comunitária em Amã, na Jordânia, e trabalha no comitê dos Repórteres Árabes para o Jornalismo Investigativo. Este artigo é um trecho de um post foi publicado originalmente no Middle East Monitor e na Global Investigative Journalism Network. É republicado e traduzido para a IJNet com permissão.