Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um grande ano para o jornalismo

O jornalismo de massa pode estar sendo questionado enquanto modelo de negócios, mas nunca como atividade essencial à lei mais fundamental do mundo: a da liberdade humana. Em 2014, uma eleição desgastante tratou de acentuar a polarização que já controla o Brasil há décadas. De um lado a outro, troca de acusações, farpas em todas as direções. No meio dessa guerra eleitoral, sobrou espaço também para uma série de mentiras – ou meias-verdades – averiguadas de perto por repórteres de todo o país.

Nos programas de campanha, a realidade era próspera e imaculada. Os políticos carecem de um código de ética jornalística, pois trazem à tona apenas os fenômenos que lhes interessam. O contraponto, invariavelmente, foi dado pela imprensa, desmentindo contos de fadas compartilhados pelos partidos. O eleitor, nesse contexto, teve todos os recursos para votar direito, desde que se fixasse em fontes credíveis da informação. Na esteira do desespero pela presidência, fervorosos militantes trataram de usar as redes sociais como canal de sofismas. Muitas sandices circularam pela grande rede.

Destarte, a eleição mais disputada da história brasileira teve inúmeros episódios marcantes. Primeiro, a trágica morte de Eduardo Campos, noticiada com ebulição pelos meios de comunicação. Ali estava escrito um importante capítulo da corrida presidencial. Depois, o pleito em si, onde Marina Silva surgiu como uma alternativa viável à rivalidade política que controla o país. A ambientalista, contudo, não resistiu aos ataques dos adversários e pereceu perante a preferência do eleitor por Dilma Rousseff e Aécio Neves.

Ética e grandes coberturas

Este ano viu também a velha discussão sobre a manipulação da notícia. O caso da revista Veja tomou as redes sociais, ambientes de trabalho e rodas de bar. A capa que antecedia o dia das eleições apresentava Dilma e Lula com expressões fechadas, austeras, ao lado de uma frase autoexplicativa: “Eles sabiam de tudo”. Editorialmente, a publicação não teve nem o cuidado de abrir aspas para uma frase deslocada dentro de uma investigação. Alberto Youssef, o doleiro da Petrobras, foi quem a proferiu. Daí até a cúpula do PT saber do esquema, de fato, faltaria o nexo probatório. Faltou também isenção por parte do veículo.

Mais cedo em 2014, a polêmica de anos antecedentes. A Copa do Mundo aconteceu novamente em solo nacional. Por todo o país, matérias sobre o grande evento esportivo não faltaram. Os assuntos variaram entre curiosidades, costumes, relacionamentos e a paixão global que envolve o futebol. O jornalismo precisou noticiar também, para incrustar na alma de cada brasileiro, a inesquecível goleada para a Alemanha – 7 x 1 – que superou, de longe, a derrota na Copa de 50.

E no final, ainda sobrou espaço para um momento milenar. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou a reabertura das relações diplomáticas com Cuba. O fim do último entrave entre comunistas e capitalistas, que agora dá vazão a novos tempos, deixando a Guerra Fria no passado. Paz que beneficiará milhares de indivíduos, dentro de um intercâmbio pessoal e profissional. Episódio repleto de valores-notícia, portanto.

Mais um período que vai, mais uma memória coletiva construída. Este ano se locupletou de grandes fenômenos humanos, cujo interesse público pertencia não a um grupo específico, mas a grandes aglomerações. O jornalismo checou todos eles, formando opiniões por meio de informações verdadeiras e apurações precisas – de um modo geral.

Assim sendo, que venha 2015, com novas coberturas e reviravoltas. E sempre torcendo por uma profissionalização cada vez mais ascendente da área. Afinal, é da busca pelo conhecimento que estamos tratando.

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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo