Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Imprensa mundial se divide na reprodução de charge

Jornais, revista, sites e TVs ao redor do mundo se dividiram sobre a publicação da capa histórica do jornal semanal Charlie Hebdo pós-atentado. A charge de Maomé, profeta maior da religião muçulmana, chorando enquanto segura um cartaz onde se lê “Eu sou Charlie”, sob o título “Tudo está perdoado”, provocou divergências entre os principais veículos de imprensa.

Na maioria dos países europeus, jornais e sites reproduziram a capa, como os franceses Le Monde e o Libération (que vem abrigando a equipe do semanário), além do alemão Frankfurter Allgemeine. O El País, inclusive, publica nesta quarta-feira em sua edição impressa a página dupla central do novo número do semanário, em espanhol, catalão e português.

Na Dinamarca, vários jornais publicaram a capa em suas versões online, entre eles Berlingske, Politiken, Information e Ekstra-Blade. Já o Jyllands-Posten preferiu não reproduzi-la. Foi esse último diário que provocou a primeira grande polêmica mundial ao divulgar uma série de charges de Maomé em 2005. Desde então, tem tido uma postura mais discreta sobre o tema. “Foi por causa de uma charge de Maomé que morreram. E é com uma charge de Maomé que voltarão à vida”, publicou ontem o Jornal de Negócios, de Portugal.

A exceção foi o Reino Unido, onde o Independent foi o único dos grandes jornais a publicar a capa na versão impressa. O Guardian reproduziu a imagem em sua página online, destacando que “o editorialista sobrevivente do semanário satírico francês afirma que essa capa é um chamado ao perdão para os terroristas que assassinaram seus colegas na semana passada”. Já o Daily Telegraph optou por reduzir a reprodução para não expor a figura do profeta. A rede BBC mostrou rapidamente a capa durante o jornal Newsnight.

Preocupações com a segurança

Nos EUA, Washington Post, USA Today, o Los Angeles Times, Wall Street Journal, Daily Beast e CBS News publicaram a capa, mas o New York Times e a rede CNN evitaram.

“A escolha de republicar ou não a imagem vai ao coração do debate sobre o que constitui liberdade de expressão contra imagens gratuitas que ao menos alguns leitores consideram ofensivas. A escolha também abrange os padrões diferentes do que americanos e franceses consideram ofensivo”, escreveu o New York Times, que afirmou ter usado seu “julgamento editorial” para não republicar a capa. Na semana passada, o jornal já optara por não reproduzir nenhuma das polêmicas charges anteriores do Charlie Hebdo ao noticiar o atentado.

A CNN, por sua vez, “disse que a publicação é um momento triunfante para o semanário, celebrado por jornalistas em todo o mundo, mas também é altamente provocativo”. A CNN “geralmente se abstém de mostrar imagens que tentem retratar o profeta, por preocupação com a segurança de seus profissionais e a sensibilidade da audiência muçulmana”, completou a emissora.

A rede ABC australiana exibiu a capa rapidamente, com avisos de atenção para o teor das imagens. “Por um lado, ao publicar essa capa, corremos o risco de ofender alguns dos nossos leitores. Por outro, se não a publicarmos, ofenderemos um número ainda maior dos nossos leitores, que querem que tomemos uma posição contra o que esses ataques na França representaram”, explicou o editor-chefe do site australiano News.com.au, Daniel Sankey.

Na Rússia, apenas o jornal Kommersant reproduziu a capa. Na Turquia, um país muçulmano, a imprensa descreve o novo número do semanário satírico, mas não o exibe. No Irã, o site de notícias Tabnak afirma que o Charlie Hebdo mais uma vez “insulta o profeta”. “A onda de insultos contra as entidades sagradas do Islã, na qual esse semanário teve um papel preponderante no passado, combinada com a islamofobia, aumenta no Ocidente”, escreveu o site.