Paris, 7 de janeiro de 2015. O novo ano se inicia e com ele, uma guerra “santa” contra o semanário Charlie Hebdo, a publicação que entra agora para a história da imprensa mundial como vítima do “massacre” de 12 funcionários que trabalhavam para o jornal satírico francês. Novamente, um espetáculo que recebe o título de “atentado à liberdade de expressão”, assunto recorrente, explorado pela mídia e opinião pública à exaustão, que ecoa pelos quatro cantos do mundo e nos deixa tão perplexos como se estivéssemos diante da possibilidade de um meteoro atingir a Terra e extinguir, para sempre, a vida no planeta.
Vamos admitir: morremos um pouco a cada dia e nos matamos um bocado por dia. As estatísticas são reveladoras e não é necessário colocá-las aqui. Os números estão presentes todos os dias nos noticiários, ou pelo menos nos veículos que cumprem o papel de informar as atrocidades dia a dia. Mortes sem nome, rosto ou repercussão. Sem misericórdia, solidariedade ou manifestação. Sem protesto, julgamento e perdão. Com isso, não se pretende defender ou levantar a bandeira do jornalismo, menos ainda a sua atuação dentro de casa, no Brasil. A espetacularização está por toda parte, assim como a indiferença também. Mas o que julgamos ser relevante está em xeque. Nossos limites estão em xeque. Já dizia o ditado: a tua liberdade termina onde começa a do outro. Preceito básico para convivermos em harmonia, respeitando o próximo. Atitudes extremas são injustificáveis, assim como o conteúdo ofensivo, confundido com humorístico. E isto não significa ficar em cima do muro, é só uma questão de bom senso, outro preceito fundamental para viver em sociedade, mas que é ignorado solenemente.
Somos regidos por leis, porém o que não está devidamente regulamentado nos escapa e lavamos as mãos, não contribuímos para o acordo, a paz e o entendimento. Pelo contrário, suscitamos o ódio, a guerra e o rancor. Jornalistas e humoristas usam a liberdade de expressão como escudo e os terroristas islâmicos vingam sua crença pelo terror. A pergunta não é quem tem razão, e sim, quando foi que a perdemos? Há quem diga que não existem verdades absolutas, mas cada ser humano acredita na sua verdade, o que já é suficiente para não sermos iguais. Uma guerra jamais será santa, um massacre conta com um número maior de mortos, um jornal não tem como princípio ofender quem quer que seja e já que o tema envolve religião, peço, por gentileza, que não tomem o nome da liberdade em vão.
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Juliana Jovanelli é jornalista