Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Entre o amadorismo e a incompetência

Quando o amadorismo se associa à incompetência, a bagaceira é inevitável: todos perdem. É o caso hoje da questão da água no Brasil.

Há três séculos o mundo sabe que a água é um recurso natural finito. Desde 1997, quando foi promulgada a Lei 9.433, que instituiu a política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, o Brasil passou a ter regras claras para a preservação e usos da água.

O planeta sabe que apenas 2% da água nele existente é doce. E os outros 98% são salgadas. Prevendo um colapso futuro, desde a primeira metade do século passado países como Israel se anteciparam e providenciaram a dessalinização. Mas países como o Brasil fizeram o caminho inverso: caíram na esparrela do desperdício. Com a evidente falta d’água em São Paulo desde o começo do ano passado, até a mídia entrou no estresse emocional de criar uma expectativa em relação à chuva. Que veio, não resolveu, nem resolverá o problema.

Foram esgotados todos os argumentos, mas o governo do estado de São Paulo não reconheceu a necessidade de adotar o racionamento d’água. Hoje, só a região norte do país não sofre com o problema da falta e da escassez da água. Mas a gritaria da mídia ecoa em todo o país. Como o governo federal faz ouvidos de mercador, a água se converteu aos poucos numa questão de segurança nacional.

O uso de água contaminada, mesmo tratada, em São Paulo, poderá desencadear uma epidemia de proporções incontroláveis.

País tem que acordar

Há casos em que o Brasil parece um hospício. Primeiro, cuida-se da impermeabilização indiscriminada do solo das cidades. A filtração natural da água no solo permite a sua acumulação nas camadas do subsolo, de onde pode ser recuperada através do bombeamento nos poços artesianos. Desde que essa questão foi apreciada tecnicamente com seriedade há dois séculos, mesmo onde mais a indústria automobilística cresceu e se desenvolveu os governantes tiveram cuidado com a impermeabilização do solo com asfalto.

Os poços artesianos usam, há mais de um século, reservas de água para o futuro. Nem o racionamento retardado resolve mais isso. Em países como a China esse assunto é ensinado às crianças desde o ensino fundamental.

Agora o governo brasileiro, quando acordar, deve ter um plano que inclua a) o bombardeio de nuvens para as bacias hidrográficas; b) transporte d’água da região norte para o Sul e o Sudeste; c) providenciar a implantação de um sistema de dessalinização; e d) revitalizar o funcionamento dos comitês de bacias hidrográficas, desativados também por amadorismo e incompetência.

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Reinaldo Cabral é jornalista e escritor