Num de seus artigos, o jornalista Ricardo Melo diz: “Em 1997, o jornalista Paulo Francis denunciou esquema de roubalheira na Petrobras num programa de TV. O presidente da empresa, Joel Rennó, em vez de tomar alguma providência, abriu um processo de US$ 100 milhões contra Francis”. Na verdade, Francis pôs o dedo na chaga que penaliza a sociedade. Ele sabia que a corrupção tomava a estatal petroleira desde os tempos da gestão Fernando Henrique Cardoso (1994-98). Seu único erro foi acusar sem apresentar uma única prova. O que aconteceu todos sabem…
Por outro lado, no artigo “Nunca se roubou tão pouco”, publicado em 21/11/2014 pela Folha de S.Paulo, o empresário tucano Ricardo Semler foi cirúrgico ao afirmar: “Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente.”
Assim como Francis, Semler escancarou o que é sabido por todos. A roubalheira na empresa e em outras estatais é algo que todos nós sempre soubemos. O mesmo ocorre nos estados e municípios… Disse mais: “Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobras – pelos empresários?”
Mídia simula isenção
Com relação à crise da Petrobras, no geral, a grande imprensa até aqui tem adotado duas posturas que desqualificam o seu papel: adotou o denuncismo contra o PT. Como se fosse o único partido envolvido em fraudes. Mais, se comporta como partido de oposição ao governo Dilma Rousseff e induz o cidadão comum pensar que a presidente faz vista grossa para a corrupção…
Afinal de contas, qual é o papel da mídia? Seu papel é expor os fatos, investigar e buscar a verdade. Informar o leitor para que tire sua conclusão. Enfim, o compromisso da imprensa é a busca da verdade dos fatos e colaborar para que a informação atinja todos os seguimentos da sociedade civil.
Pois bem, Francis e Semler disseram o que boa parte esclarecida da sociedade brasileira sabe desde há muito. É aqui o ponto alto da hipocrisia nacional. Todos sabem que a coisa não mudou nos governos FHC. Mais, nas presidências de Sarney, Collor e Itamar. Aliás: todo mundo sabe que não se acaba com a corrupção e a roubalheira do dia para a noite. Nossa elite econômica sabe bem disso. Mais, nossos partidos políticos – sem exceção – não primam pela ética e coerência. Muitas vezes, os direitos e as necessidades da população são deixados de lado em nome dos interesses partidários. Quem nega?
Do outro lado da moeda, como observa o colunista Nirlando Beirão, do R7, a mídia hegemônica, o Ministério Público e a Polícia Federal não querem apurar escândalos no metrô paulista e no Rodoanel. A justificativa: investir pode resultar em respingo em alguém da casa. Beirão diz mais ainda: “A corrupção na Petrobras envolve o PT e também outros partidos irrigados pelas propinas, inclusive partidos que estão na oposição, como o PSDB e o PSB”.
Portanto, o tratamento midiático, em relação ao governo petista, não é imparcial. Contudo, simula isenção aos olhos da opinião pública. Tem mais ainda, o que mais chama nossa atenção é que a nossa mídia se aproveita da baixa escolaridade e da pouca politização da população para desinformá-la.
Em outras palavras, Dilma e sua equipe vêm sendo, impiedosamente, massacrados por causa dos esqueletos da Petrobras. Para os tucanos e seus aliados, os meios de comunicação de massa fecham os olhos e tem uma postura servil. Por exemplo: a crise hídrica, em São Paulo, é fruto da má gestão tucana de Geraldo Alckmin. O que faz a mídia? Nada. Absolutamente nada. Tem uma atitude passiva e anódina. É o caso da Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, revistas Veja e Época… Resultado: dessa forma, os desmandos e os esqueletos tucanos deixam de ser investigados… E fica tudo bem!
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Ricardo Santos é jornalista e professor de História