Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Tarpon compra controle da Abril Educação

Um ano após a compra de uma fatia de 19,91%, a gestora Tarpon adquiriu o controle da Abril Educação e passa a deter 40,64% da companhia. Essas duas transações demandaram investimentos de R$ 1,3 bilhão, mas o cheque será maior, uma vez que a Tarpon estenderá a oferta aos minoritários. A estimativa é que a gestora desembolse mais R$ 1,32 bilhão para pagar os demais acionistas. Ou seja, o investimento da Tarpon na Abril Educação pode chegar a R$ 2,6 bilhões.

A Abril Educação é avaliada por R$ 3,22 bilhões, mas o fundo soberano de Cingapura (GIC), que em agosto do ano passado, comprou uma fatia de 18,5% por cerca de R$ 600 milhões não deve se desfazer de sua participação, segundo fontes do setor. Isso porque o GIC pagou R$ 12,33 pela ação da Abril Educação – o mesmo valor oferecido pela Tarpon nessa transação. Portanto, não faria sentido o GIC vender em tão pouco tempo, sem qualquer prêmio. Além disso, uma das características dos fundos soberanos são os investimentos de longo prazo.

A transação marca ainda a saída da família Civita da Abril Educação. Uma possibilidade impensável na época em que o fundador Roberto Civita era vivo. No entanto, após a sua morte, em maio de 2013, os investidores aumentaram o assédio em torno da companhia. Segundo fontes do setor, os fundadores decidiram abrir um processo formal de venda no segundo semestre de 2013, após uma negociação entre o fundo americano KKR e o então presidente, Manoel Amorim.

Na época, cerca de sete fundos de private equity – KKR, Apax, Carlyle, TPG, Advent, GP e Tarpon – participaram da concorrência. A Tarpon foi a última a entrar no processo e o valor oferecido foi próximo aos dos demais competidores. O que pesou na escolha da família Civita foi o fato de os executivos da Tarpon já serem seus conhecidos, ainda de acordo com fontes próximas às negociações na época.

Em paralelo, ao assédio dos fundos, a Abril Educação enfrentou durante o ano de 2013 uma série de questionamentos em torno da compra da rede de escolas de inglês Wise­Up por R$ 877 milhões. O mercado considerou o valor elevado e os papéis da companhia despencaram, indo na contramão do setor de educação que fechou o ano com as ações em alta. Ontem [segunda, 9/2], as ações da Abril Educação subiram 17,86% para R$ 11,94.

Até hoje, o principal desafio da companhia é a Wise Up que teve cerca de 40 unidades fechadas no ano passado devido a problemas de perda de alunos, alta rotatividade de professores, material didático ultrapassado, entre outros problemas. Em sua primeira teleconferência com analistas, realizada ontem, o novo presidente da Abril Educação, Eduardo Mufarej, sócio da Tarpon, mostrou que uma de suas preocupações é com a Wise Up. “Temos desafios operacionais na Wise Up, mas não há movimento de venda. Essa segregação já existia e foi mantida”, disse Mufarej, ao explicar os motivos da rede de idiomas estar separada dos demais negócios da companhia. Antes, a Wise Up e Red Balloon estavam num mesmo guarda­chuva.

Segundo Mário Ghio, que presidia a Abril Educação e agora passa a ser diretor­geral da companhia, houve essa mudança porque a Red Ballon está mais integrada ao negócio de educação básica – muitas escolas de idiomas para crianças têm parcerias com colégios e escolas que compram os sistemas de ensino da Abril Educação.

Fase de reestruturação

O negócio de educação não é o único da família Civita a atrair investidores. No segundo semestre do ano passado, o fundo Victoria comprou por cerca de R$ 100 milhões a Elemídia, fornecedora de conteúdo para monitores instalados principalmente em elevadores de prédios comerciais.

Com a venda da Abril Educação e de algumas revistas e negócios de mídia, a família Civita está voltada agora à Editora Abril e à DGB, holding de logística que pode ter um sócio ainda neste ano. “Não temos pressa de ter um sócio. A DGB está equilibrada, mas dependendo das conversas, podemos ter um novo sócio ainda neste ano”, disse Douglas Duran, CEO da DGB e vice­presidente de finanças e controle do Grupo Abril.

A DGB, que reúne as empresas Total, Dinap e Treelog, encerrou o ano passado com faturamento um pouco acima de R$ 1 bilhão e um Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de cerca de R$ 10 milhões. Em 2013, o Ebtida foi negativo em R$ 52 milhões, informou Duran, que vem reestruturando a área de logística desde o fim de 2013. “Nossa meta para este ano é aumentar o Ebitda [de R$ 10 milhões] em quatro vezes”, disse.

O executivo diz que a DGB vem sendo procurada por investidores, mas ainda não há negociação firme. “A fatia a ser vendida vai depender do comprador, mas queremos um sócio estratégico, que agregue valor à operação”, disse Duran, que não gostaria de ter um fundo de investimento “que quer sair em dois a três anos do negócio”. O futuro sócio deve ser capaz de trazer ideias novas, como ocorreu com a Abril Educação, que foi crescendo dentro do setor, agregando outras empresas, disse.

O processo de separar as despesas da Editora Abril e da DGB continua em andamento. A ideia é que cada empresa pague suas contas, para dar mais agilidade. “Até agosto devemos ter terminado este processo”, disse Duran. “Como temos meta de ter sócio, é melhor não ter negócios com partes relacionadas”, afirmou.

A Editora Abril continua sendo a maior empresa do Grupo Abril e é também a maior editora de revistas do país, com receita de R$ 2,5 bilhões e prejuízo de R$ 168 milhões em 2013. A editora passa por uma reestruturação – enxugando o portfólio, para focar em títulos mais rentáveis, capazes de gerar negócios em várias áreas, como as revistas Veja, Exame, Claudia e as Vejinhas. Segundo o site do grupo, a editora reúne quase 40 títulos, com 23 milhões de leitores. O Grupo Abril também possui o maior parque gráfico para imprimir revistas da América Latina em volume de produção e emprega cerca de mil funcionários.

O controle do grupo está nas mãos de Giancarlo Civita – neto do fundador do grupo Victor Civita e filho de Roberto Civita – e de seus dois irmãos Victor e Roberta.

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Beth Koike e Cynthia Malta, do Valor Econômico