O recente episódio envolvendo o blogueiro do Cafezinho e um executivo da Rede Globo de Televisão mostra que, cada vez mais, o subterfúgio usado pelos escritores, colunistas de jornais, conversas escritas usadas por aqueles que discordavam das ideologias da ditadura no Brasil, com mensagens subliminares, deverá estar de volta.
Qual a garantia que têm aqueles que ousam discordar, discorrer qualquer palavra, mesmo dicionarizada, mas que tem um apelo popular, digamos, mais contundente, de ganhar um entrevero judicial? Nenhuma.
Definitivamente, o Brasil se encontra dividido entre aqueles que lutam pelo direito de expressão e aqueles que têm o direito de expressão, mas não se conformam com as críticas, e por motivos de projeção maior, de cargos melhores e condições financeiras melhores avoquem o direito de expressão para eles, e para os outros as barras dos tribunais.
O Índice de Confiança Social, medido pelo Ibope em setembro de 2014, apontava o Corpo de Bombeiros como a instituição em primeiro lugar, as mídias de comunicação em quarto e o Poder Judiciário atrás dos bancos. Igrejas e Forças Armadas ocupavam o segundo e terceiro lugares. Mas, todos os índices em queda.
A mentirosa falácia
As recentes performances de membros do Judiciário, até como no caso acima, ou a postura dos membros da Suprema Corte, aparecendo nas mídias como celebridades e não como juízes, contaminam o processo de confiança. Para os amigos, a lei, para os inimigos, as agruras da lei. Os números aí estão e contra fatos não existem argumentos.
Afinal, mesmo tendo razão, ou achando que sim, qual cidadão brasileiro teria a confiança de entrar ou temer uma ação contra as “autoridades”, mesmo aquelas que não têm a toga, mas que se julgam acima do bem e do mal, por, supostamente, ter um poder que uma simples tomada elétrica, desplugada da energia, simplesmente desaparece?
Os três primeiros lugares estão, por assim dizer, na imaginação popular entre aquelas que vêm em seu socorro. Nestas, deveriam estar a polícia e o Poder Judiciário e, no entanto, não é isso que acontece. E as duas últimas aparecem juntas. Literariamente, poderia dizer que os cidadãos estão preocupados com a garantia física e espiritual das suas existências, o resto seja como Deus quiser.
Voltemos ao raciocínio do primeiro parágrafo: nos mesmos moldes do tempo da ditadura, voltaremos a usar as mensagens subliminares e os textos de José J. Veiga voltarão a bombar, com as situações de críticas veladas em personagens dantescos, encobertos por uma bruma desconhecida, e tentando mascarar as críticas e as insolvências do futuro em personagens barbudos, falando, aparentemente, coisas desconexas, enviando mensagens entre pares para não serem pegos e levados às barras dos tribunais.
As palavras contêm artifícios que ofendem por serem elas mesmas, e não pelo que significam. O famigerado fulano de tal, não é apenas mais do que um famoso, porém usar o termo seria motivo de demanda judicial.
No entanto, o uso das palavras e imagens conectadas entre si, visando uma terceira mensagem, usa o mesmo artifício, mas, sendo usada por um meio de comunicação, aparentemente guardam a inocência do famoso e degeneram na mentirosa falácia de um famigerado.
Fonte: Ibope – http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Ap%C3%B3s-queda-acentuada-em-2013,Indice-de-Confianca-Social-se-estabiliza.aspx
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Nilson Lattari é escritor, graduado em Literatura