Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A contínua obscuridade dos interesses

A imprensa hegemônica brasileira não favorece o debate. Amealha um punhado de intrigas políticas fundadas em interesses que as próprias organizações de comunicação insistem em esconder das suas redações. Publica-se o que deve ser publicado e ponto final. Das análises de sua mortificada ética e credibilidade não sobra um traço perfeito da verdade dos fatos, esta cantilena mentirosa e vil disparada em propaganda pelos próprios construtores da notícia. Luta-se antes por uma verdade que devora todas as outras, inclusive as verdades que o povo, agora navegador do mundo das informações, já interpreta como inverdade. Porque a imprensa hegemônica brasileira, de modo geral, abdica do senso comum para ser, como somente ela sabe ser, elitista.

Para as vozes que transformam o elitismo em minoria, antecipo uma contra-argumentação: a referência neste caso evidencia o apego ou a dependência da imprensa dos grandes grupos econômicos, dos interesses hegemônicos que cercam as redações, das manipulações engendradas ao longo dos tempos por interesses e privilégios que ultrapassam a simples construção do noticiário. No caso, os menos favorecidos deste modelo de elitismo midiático seriam todos aqueles que leem um jornal na expectativa de deparar com análises verdadeiras. Verdadeiras, não no sentido do absolutismo do conceito, mas credíveis, cercadas de credibilidade. E, de certo modo, é preciso pensar que a imprensa já não cumpre com a verdade/credibilidade.

Por ideais que são cada vez mais obscuros ou tortuosos, a imprensa trilha o caminho mais fácil do não debate, ou da não profundidade do debate. Ela necessita que seja assim. Incomoda quando alguém, do próprio círculo da comunicação, irrompe com uma crítica feroz. Porque a imprensa não gosta de ser criticada, não gosta de ser pautada, não gosta de regulamentações. Mas no interlúdio desta última afirmativa e a próxima, vale a pensa dizer que a imprensa vive de críticas alheias, pauta a vida dos brasileiros consumidores de informações e exerce ainda, sobre suas regulamentações, um poder indescritível nas fileiras desta República. E a imprensa tem sobrevivido a empreitadas. A última é impor aos brasileiros a derrocada fina, porque, afinal, nós nunca passamos de uma república de bananas.

A imprensa faz o que quer

A imprensa brasileira, que sempre admirou os Estados Unidos, o primeiro mundo, a Europa, não enxerga no Brasil senão o reflexo da derrota, daquilo que deveria ser e não foi. Mata-se diariamente a essência do povo brasileiro quando ele é lançado abaixo, atirado ao fosso com todas as conquistas, mesmo as menos expressivas. Degusta-se com prazer o liquido sumarento das crises políticas, do mau momento. Porque profetas de desventura, na imprensa, têm reserva em espaço VIP. Não importa o quanto se achincalhe o Brasil, suas instituições, sua política, o poder estabelecido. Diz-se: tudo em nome e defesa do povo. Mas o povo, quando reconhece o sabor amargo do veneno midiático, arqueja combalido no posfácio de sua melancolia, já derrotado de outras batalhas.

A luta não é de classes, de ideologia, de grupos ou partidos políticos. A luta é pela credibilidade de um país. E não pode haver credibilidade se a sujeira é escondida debaixo do tapete; se por vinte anos um câncer continuar escondido nas entranhas de uma estatal; não pode haver credibilidade se a imprensa e a justiça utilizam dois pesos e duas medidas para tratar de assuntos da mesma alçada; jamais poderemos ser justos se acreditamos numa imprensa que investiga além da polícia e de uma polícia que prende, acusa, para somente depois investigar; como poderemos acreditar em veículos de comunicação que interferem no ritmo das investigações e definem a construção dos fatos de acordo com seus interesses? Por isso, a ideia do marco regulatório é repugnante, cheira a censura, cassa a liberdade. Rechaçam tudo o que regula. A imprensa faz o que quer do Brasil e ponto final.

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Mailson Ramos é relações públicas