O jornalismo raras vezes me emociona. Apesar de contar casos da vida real enfatizando as desgraças humanas, a violência, a tristeza e toda a sorte de acontecimentos lastimáveis, não consigo me emocionar com facilidade. Algumas histórias são até emocionantes, mas não sensibilizam. O jornalismo conta tudo com apatia e a gente assiste todo dia como sendo apenas mais um caso. A frequência é tão grande que repórteres falam de mortes, acidentes, corrupção, doenças e guerras com a naturalidade de quem vai tomar um cafezinho ou um copo com água.
Desde que comecei a atuar no jornalismo sempre achei isso terrível. Estamos nos transformando em seres humanos cada vez mais insensíveis, amedrontados com o mundo e preocupados apenas em salvar o próprio umbigo. A repetição de histórias ruins vai nos tornando pessoas mais frias. É como se, ao longo do tempo, nós nos acostumássemos com o sofrimento alheio e passássemos a nos abalar com poucos acontecimentos. A verdade é que já vimos tanta coisa pela televisão que esperamos qualquer desgraça, a qualquer momento.
Porém, no domingo (22/2) eu me emocionei com o jornalismo. Fazia um bom tempo que isso tinha acontecido. E geralmente acontece com reportagens com a mesma intenção: contar histórias boas. Essas sim me surpreendem. Mostram-me que há belezas no mundo e pessoas valoráveis. Há sim bons acontecimentos.
Mas não basta apenas ser uma história boa. Para emocionar é preciso que um bom repórter a conte. Alguém que não trate aquela história como uma qualquer. Que se atente aos detalhes. Que tenha intimidade com a língua portuguesa, raciocínio crítico, observação profunda das pessoas e do ambiente. Que consiga ver além do óbvio. Alguém que construa frases simples e diretas, mas profundas. Que realize uma apuração criteriosa, filtre as informações relevantes e não dê ênfase a coisas insignificantes, a polêmicas sem sentido.
“Transmitir um pouco de sol”
Pois bem, esse repórter foi Marcelo Canellas. Sou fã do trabalho dele pois reúne todas as características que citei. Na reportagem a narrativa serena é acompanhada por músicas sutis, falas dos entrevistados, som ambiente na medida, imagens feitas com carinho pelo cinegrafista e uma edição de imagens apurada. É preciso que todos da equipe tenham sensibilidade para que o conjunto da obra consiga passar a mensagem correta e emocionar o telespectador.
A reportagem foi sobre Divaldo Pereira Franco, exibida no Fantástico. Do título eu não gostei: “Principal médium do país psicografa diante das câmeras do Fantástico”. Ao ver pensei que seria um material que buscasse polemizar a mediunidade ou questionar se seriam mesmo verdadeiros os fenômenos mediúnicos ou ainda mistificar, o que, para o espiritismo, não tem maiores cerimônias e nem rituais.
Não. O repórter mostrou algo bem mais importante que isso, a essência do trabalho de Divaldo Franco. Uma obra social que já tirou mais de 160 mil pessoas da miséria ao longo de sessenta anos. Uma produção de 258 livros psicografados e 10 milhões de exemplares vendidos, com toda a renda revertida para o projeto de vida do médium: a Mansão do Caminho. Vale a pena assistir.
Isso, sim, é emocionante, é raro, é bonito de se mostrar. É também capaz de comover as pessoas e fazê-las refletir. Ajuda a criar a esperança em um mundo melhor. Contribui com a modificação íntima das pessoas. É um tijolinho na construção de um mundo melhor. Mas por que o jornalismo se dedica tão pouco a esse tipo de assunto? Por que não emocionar mais as pessoas com o jornalismo? São perguntas que dariam páginas e páginas de discussão.
Enfim, pra terminar este texto deixo aqui as últimas frases da reportagem:
“O homem que diz conversar com os mortos já trouxe à vida 1,5 mil bebês. É o caso de Murilo, que veio ao mundo com 49 centímetros e pouco mais de 3 quilos mostrando para que serve uma vida luminosa. ‘Para poder transmitir um pouco de sol. Porque há tantas pessoas em pleno inverno nesses dias de claridade. E passar deixando pegadas que apontam o caminho de felicidade aos que vem atrás’, diz Divaldo Franco.”
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Luciellen Souza Lima é jornalista