“Todos apoiaram o Charlie Hebdo, mas poucos estariam dispostos a desenhar e publicar uma caricatura blasfema”, escreveu Riss, cartunista e novo diretor do Charlie Hebdo em editorial publicado na nova edição do semanário.
O jornal satírico francês Charlie Hebdo retomou seu ritmo normal de publicação, semanal, e chegou às bancas da França nesta quarta-feira (25/02), sete semanas depois do atentado que deixou 12 mortos na sua sede, em Paris.
O número 1.179 do jornal tem tiragem de 2,5 milhões de exemplares – era de 60 mil antes do ataque e chegou a 8 milhões, recorde na França, na edição de 14 de janeiro, primeira após a morte de seu diretor, o cartunista Charb, e de outros colaboradores.
Segundo relatos da mídia francesa, a explosão nas vendas, somada às doações, fez com que o Charlie Hebdo arrecadasse o equivalente a cerca de R$ 33 milhões.
O jornal francês Le Monde, porém, diz que há uma briga pelo controle acionário do jornal entre os cartunistas sobreviventes e os herdeiros dos que foram mortos. Além disso, o semanário enfrenta dificuldades para contratar novos cartunistas, devido ao medo de novos atentados.
Torcida pelo touro
A capa do novo número traz o desenho de um cão com um exemplar do Charlie Hebdo entre os dentes, perseguido por cachorros enraivecidos – entre eles, Marine Le Pen, líder da extrema-direita francesa, um jihadista com fuzil entre os dentes e o papa Francisco.
Desta vez, melhorias na distribuição evitaram a formação de filas nas bancas parisienses, cujos vendedores esperavam maior público. Segundo a agência Efe, muitas bancas se recusaram a vender mais de um exemplar por pessoa, embora tivessem pilhas do jornal nas prateleiras.
A edição faz várias referências ao atentado, mas seus novos chefes afirmam que querem recuperar o ritmo normal da publicação, o que pressupõe diversificação de temas.
“Todos apoiaram o Charlie, mas poucos estariam dispostos a desenhar e publicar uma caricatura blasfema”, escreveu o novo diretor do jornal, Riss – aludindo às caricaturas de Maomé apontadas como motivo do ataque por seus autores, os irmãos Chérif e Said Kouachi, mortos pela polícia em 9 de janeiro.
Para Riss, o povo apoia Charlie como quem torce pelo touro em uma tourada.