A notícia sobre o filho da catadora de lixo que conquistou o 1º lugar no Instituto Federal do Rio Grande do Norte rodou o país. Foi matéria destaque nos telejornais da Rede Globo e em outros portais de notícias. Um sucesso de audiência. Contada e recontada, copiada e colada, a “história” fez história.
Thompson Vitor, de 15 anos, passou em primeiríssimo lugar para o curso Técnico Integradoem Multimídia, um fato comum. No entanto, as origens do garoto e a trajetória até à aprovação foram os ingredientes essenciais para a mídia “usar e abusar” da comovente pauta que virou capa. A mãe do menino é catadora de lixo e o pai trabalha fazendo salgados. Thompson, sem dúvidas, se tornou o orgulho da família e a matéria sobre Thompson certamente se tornou, de forma camuflada, o orgulho de uma geração de jornalistas que rotulam, estereotipam e estampam “Você é isso”.
O outro lado da moeda dessa história só será visto por dois tipos de pessoas. Pelo próprio Thompson, que é o protagonista, e pelos coadjuvantes, eu e você, leitor, que decidiu sentir na pele o que o garoto vai sentir. Certamente haverá quem ao menos olhe uma vez para o menino e lembre “Olha o filho da catadora!” Não que isso que seja algo ruim, mas certamente se tornará incômodo se virar comum. Rótulo. Thompson é apenas mais um. Assim como muitos outros, ele passará a ser tratado não pelo o que ele vai se tornar, mas pelo que ficou conhecido. Não se pode mudar o tempo da notícia. O garoto sempre será filho, a mãe sempre será a catadora e o que foi noticiado nunca será reeditado para nos lembrar “filho de ex-catadora”.
******
Wenderval Gomes é jornalista