Há algumas semanas, um daqueles famosos “virais” tomou conta das redes sociais. A foto de um vestido azul e preto – de acordo com minha percepção – era compartilhada às ganhas, sem motivo aparente que justificasse tamanho rebuliço. A razão estava escondida nos caminhos enrugados da mente. Algumas pessoas não viam um vestido azul e preto. Bem longe disso, aliás. Para elas, a cor era branca e dourada.
A brincadeira repercutiu para mostrar como a mensagem chega ao público com efeitos diversos. No caso, o conteúdo era visual. Mas vamos transpor isso para o jornalismo, isto é, a informação. Se um vestido consegue polemizar tanto, o que esperar de uma notícia que versa sobre o escândalo de corrupção na Petrobras, por exemplo? Trabalhar com comunicação é um desafio diário, portanto. Uma pequena distorção, mínima que seja, pode ter efeitos de bomba atômica na cabeça dos receptores.
A informação é instrumento que fomenta guerras e períodos de paz. Constitui a base do poder, seja ela pública ou privada. A história da imprensa no Brasil mostra que dados equivocados acabaram por condenar pessoas inocentes. Nessa equação, certamente muitos culpados se beneficiaram da ingenuidade da opinião pública, que fica à mercê dos meios de comunicação de massa. Não que os veículos façam um trabalho antiético. Nada disso. Mas existem muitos fatores que podem influenciar a boa apuração.
O bom jornalismo é transparente
Grandes empresas de imprensa têm por mote a imparcialidade. Contudo, a imparcialidade é uma utopia. Não há fatos, tudo é interpretação. Mesmo o mais preparado repórter colocará, em uma matéria, aspectos de sua formação. Trata-se de entremeio inevitável. Os interlocutores, por sua vez, sentem essa tenuidade. Um texto que para um parece isento, para outro será a carta magna da defesa de um partido político. Uma notícia que versa sobre a religião se torna uma declaração de guerra santa.
Esse difícil relacionamento é o vestido da comunicação. Alguns veem uma reportagem como branca e dourada. Outros como azul e preta. E, no final, ela é azul e preta. Não teve a intenção de macular a imagem de ninguém ou de vender um posicionamento. O bom jornalismo não vende nada. Exibe a realidade da forma mais acurada possível esperando que o público crie seus próprios julgamentos. É claro que, como instituição, os veículos estão sujeitos a pressões e influências. Esse tipo de crime de lesa consciência deve ser denunciado, de dentro para fora e de fora para dentro, buscando dar credibilidade à imprensa e garantindo um regime independente de atuação.
Por mais estudos que se façam sobre a opinião pública, é impossível avaliar o panorama todo. Os marqueteiros, normalmente, procuram minimizar o erro. Veiculam seus produtos e serviços a grupos específicos, que pensem em conformidade. E assim garantem uma boa rentabilidade às empresas que representam. O jornalismo de massa, todavia, trabalha com receptores universais. Todas as pessoas! Pois ninguém vive sem informação. Nenhum homem é uma ilha e todo ser humano constitui um ser político, um ser que interage. Isso se dá pelo conteúdo da comunicabilidade.
Azul ou branco, não importa. O bom jornalismo é transparente. Não tem cor, credo, orientação política ou classe social. É uma atividade para todos, feita por profissionais especializados. Pelas teorias da comunicação, a construção da notícia tem várias etapas que impedem sua manipulação. Logo, em tempos onde tantas informações e dados equivocados viralizam nas redes sociais, cumpre à imprensa o dever da credibilidade. Ela sempre será o meio mais confiável para se conhecer as mazelas do mundo.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo