Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A imprensa e o silêncio dos não inocentes

O último roteiro da imprensa brasileira não poderia adquirir outro nome senão “O silêncio dos não inocentes”. E, num momento em que são explícitas inconstitucionalmente as ideias golpistas, o país descobre que existe há muito tempo uma ditadura em vigor: a ditadura da imprensa. Liberdade é coisa que nunca se ouviu falar nas redações. Colunistas são coagidos a escrever aquilo que privilegia o interesse dos grupos hegemônicos, mantenedores não apenas dos veículos, mas de um sistema carcomido, viciado e corrupto. Há três anos escrevo sobre esta mesma temática. O roteiro referido anteriormente conserva um texto cada vez mais grotesco. É tão evidente a preferência da imprensa brasileira por um grupo político ou por um status de privilégios que a palavra corrupção já não os constrange. Ao contrário, usam-na para insuflar os ânimos numa reivindicação que é de todos os brasileiros.

Não incomoda que as empresas de comunicação tenham suas escolhas políticas. Seria justíssimo e democrático que a TV Globo, por exemplo, se posicionasse publicamente a favor de quem sempre defendeu. Não haveria mais o secretismo dos bastidores, a investidura por trás do palanque e a construção simbólica de um candidato numa eleição. É possível pensar que as grandes organizações gostam deste jogo de gato e rato. Não as incomoda o ritmo traiçoeiro da cobertura que já não é mais jornalística, mas institucional. O silêncio sepulcral pode sempre dar vazão a um arroubo cataclísmico: basta somente alterar e selecionar os assuntos que favorecem determinados grupos e prejudicam outros.

A lisura da imprensa brasileira afundou no mesmo caos que ela dissemina em suas notícias diárias. Quando Paulo Henrique Amorim diz, em Conversa Afiada, que a TV Globo massacra Dilma e massacra também a cabeça do brasileiro, faz referência ao apocalíptico agendamento da emissora dos Marinho para atrair antecipadamente uma multidão de insatisfeitos às ruas naquele festim diabólico de 15 de março. Precisamos pensar qual deve ser o papel da imprensa neste momento e qual papel ela tem cumprido. Não se discute a condição da crise política e da corrupção neste país. Não é a imprensa tradicional a responsável por elucidar todos os esquemas de corrupção, mesmo aqueles que divagam no limbo da nossa agenda midiática. Não fossem os blogs progressistas, os sites independentes, os jornalistas corajosos que peitam a Casa Grande midiática, teríamos análises parciais e claudicantes da nossa realidade política.

Uma pretensão, e não uma opinião

Quando o assunto é o senador Aécio Neves, vaso honorífico e impoluto da política brasileira, a imprensa não exagera: regride aos primórdios dos tempos para comprovar quem é, o que fez, qual a carreira política, quem são os padrinhos políticos e como chegou até então. Só não se fala sobre corrupção – afinal, Aécio Neves representa a força antagônica ao que a imprensa, hegemônica, mais despreza: o governo que privilegiou os trabalhadores do Brasil. As delações do doleiro Alberto Youssef até pouco tempo provocaram um bombardeio no noticiário. Dos textos das delações derivaram matérias empilhadas nos telejornais como somente a agenda midiática brasileira sabe fazer. Nos últimos dias, numa delação em vídeo, publicada no site do jornal O Globo, Youssef afirmou que Aécio Neves recebia dinheiro de uma das diretorias de Furnas quando era ainda deputado federal. Nada se ouviu a esse respeito na imprensa.

Fosse esta notícia a prova do envolvimento de um político que não assoma benemerências junto aos grandes grupos de comunicação, estaria ele linchado em praça midiática, instalado nas manchetes que começam com a palavra escândalo. A esta atitude podem-se determinar vários adjetivos, mas apenas um deflagra, em sentido restrito, o comportamento da imprensa: impatriótico. Não questionamos o direito das empresas de comunicação em cuidar dos seus interesses comerciais, mas desde que estes interesses não suprimam o dever que elas têm de respeitar a concessão pública que as estabelece no cenário nacional. Se a imprensa preza pela verdade e pela investigação, como fez crer nos últimos anos, deveria dar vazão a todos os escândalos, seja de que partido for, doa a quem doer. Isso, com todo o respeito aos notáveis navegantes, é mais uma pretensão deste colunista do que de fato a sua humilde opinião.

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Mailson Ramos é relações públicas