A saída do principal executivo da comunicação da Petrobras, Wilson Santarosa, pode ser a chance de a empresa mudar sua política (para melhor) na área. Desde a primeira CPI da Petrobras, em 2009, a empresa tomou um rumo reativo nas relações com a imprensa que perdura até hoje. O ápice da comunicação da empresa naquele período foi a criação de um blog (o “Fatos e Dados”) para responder acusações da imprensa e expor publicamente esclarecimentos enviados à mídia por conta da CPI (às vezes antes mesmo do veículo publicá-los).
A ação foi pioneira no país e, embora bastante criticada por alguns, significou um trabalho proativo da Petrobras em meio às muitas matérias negativas que saíram na ocasião sobre a estatal. Mas ficou nisso.
Desde a década de 1990, a Petrobras tem ampliado sua área de comunicação. Concorrências para contratação de agências passaram a ser disputadas a tapa pelo crescente mercado de comunicação empresarial. Estruturas internas em parceria com empresas terceirizadas foram estabelecidas para atender as inúmeras áreas da empresa, em diferentes lugares, incluindo nas suas várias subsidiárias. Trata-se, hoje, de um exército de profissionais de comunicação envolvidos, incluindo jornalistas (ou melhor, assessores de imprensa) e relações públicas, raramente encontrado em grandes corporações pelo mundo afora.
Está certo que o trabalho na Petrobras não se limita apenas a relações com a mídia. Há atividades de comunicação interna, canais de contato com funcionários, comunidade e investidores, geração de conteúdo para diferentes meios de comunicação próprios, como site, e por aí vai. Isso exige muita gente.
A reconstrução da imagem
A questão é que o trabalho de assessoria de imprensa continua sendo o mais importante para a empresa. Ele promove a ponte de relação da empresa com milhões de brasileiros que tanto se interessam pela Petrobras e a admiram – e hoje se preocupam com seu futuro. E o meio que faz essa ligação entre a empresa e o público é a imprensa – sendo ela oposição ou não ao governo, interessada ou não na abertura da exploração do pré-sal, na sua privatização etc. É aqui se sente falta de ação mais efetiva.
Com um grupo de empresas de comunicação terceirizadas em vários estados brasileiros, além de uma robusta equipe interna, não se entende por que o trabalho de relação com a mídia é tão reativo e medroso. A situação se aprofundou com a operação Lava Jato, mas já tem algum tempo, desde a CPI citada de 2009, que a Petrobras se comunica timidamente com a imprensa – levando ao questionamento por que se gasta uma fortuna em assessorias de imprensa terceirizadas, já que o papel delas hoje é única e exclusivamente blindar a empresa e remeter os jornalistas da mídia para os releases expostos pela empresa em sua sala de imprensa no seu site. No máximo, enviam por e-mail famigeradas notas oficiais da empresa.
Faltam práticas mais ousadas. É preciso também separar veículos que buscam informação da empresa para tratá-la ao sabor de sua visão político-econômica e aqueles que querem trabalhar as informações da Petrobras dentro de seu aspecto de desenvolvimento, crescimento e inovação, sem perder de vista o interesse público. Há anos que para um jornalista visitar um projeto em andamento da Petrobras tornou-se um exercício de paciência, quase sempre resultando em frustração. Mesmo quando a prerrogativa de definir o projeto a ser visitado esteja nas mãos da estatal.
São compreensíveis os problemas que a Petrobras enfrenta hoje, de investigações do Ministério Público e de atrasos em obras, o que exige controle melhor das informações. Mas já está mais do que na hora de sair da defensiva e colocar sua imensa estrutura de comunicação a serviço da reconstrução da imagem da empresa, por que do jeito que está só favorece os críticos.
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Augusto Diniz é jornalista