Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

A arte da imparcialidade jornalística

Esta semana, li algo muito interessante no site Comunique-se a respeito do Twitter e do exercício do jornalismo. Não falava na rede social como gerador de pautas, mas sim, sobre seus pequenos dilemas éticos, maiores que seus 140 caracteres. A grande pergunta era: O que você diria no Twitter se não fosse jornalista?

Ok, leitor. Talvez você não seja mesmo jornalista, mas pense nos casos famosos de demissões que aconteceram devido à livre expressão no Twitter. Lembra de Felipe Milanez? Ele era editor da revista National Geographic e foi demitido por criticar matéria da revista Veja, que faz parte justamente do Grupo Abril, seu empregador. Diante disso, pense no que significa uma opinião diante do mito da imparcialidade.

Embora leigos possam imaginar que jornalistas possuem poderes e privilégios sobre os demais seres da raça humana a verdade é que há limitações impostas em vários níveis, válidas não somente durante as horas de trabalho. Estou falando de supostas obrigações em tempo integral: de dilemas éticos por agir em prol da liberdade de outros enquanto no fundo sacrificamos a nossa.

É, eu sei. Foi extremo, mas, como o mito envolvendo imparcialidade na visão popular não admite meio termo, creio que escrever desta forma seja o mais cabível. A verdade é que nem sempre podemos pressionar a tecla ‘Enter’. Geralmente, as consequências são maiores que o habitual.

Uma arte que tem seu preço

Bom, talvez você não leia o trabalho realizado pelo Comunique-se para ter alguma ideia do que se trata, mas saiba que estou falando de coisas simples: críticas às prefeituras, empresas e instituições. Coisas que todo cidadão faz sem grandes medos, mas da qual abrimos mão em prol seja lá do emprego que paga nossas contas ou pela ideia de que o silêncio é pouco a pagar para fazer parte do que julgam ser o quarto poder.

Com isso os dedos que pouco antes despejaram palavras furiosamente na tela do computador são obrigados a recuar. Hesitantes, ao pensar nas prováveis respostas, nos resultados de um ato tido como simples. Apertar um botão deveria ser banal, um gesto quase automático. Porém as atribuições e cobranças acabam por pesar nos ombros, tornando aquele gesto breve algo complexo e cheio de significados. No fim, os dedos rumam para a tecla oposta, apagando o que acabou de escrever, ritmado por pensamentos que variam entre revolta e conformismo, dependendo do grau de idealismo do cérebro que o comanda.

É: a tal da imparcialidade é uma arte que tem lá o seu preço…

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Jornalista, São José do Barreiro, SP