A imprensa, para a política, é uma necessidade. Eterno alvo de amor e ódio dos políticos, e como tal deve permanecer. Desconfiaria de jornalistas amados por governantes, colocaria sob suspeita a sua idoneidade e a sua liberdade. A informação e o debate sobre os acontecimentos políticos são fundamentais para as decisões populares. Por isso mesmo é que a defesa da liberdade de expressão deve ser uma bandeira não só dos profissionais, mas de toda a população. O poder que a imprensa tem de se expressar livremente é a garantia de que vivemos em democracia.
Coronéis, remanescentes de um período em que idéia se impunha, ainda sofrem de surtos autoritários como método de convencimento. Claro que no moderno modus operandi não se utiliza mais a chibata, é bem mais sutil, muitas vezes com palavras corteses, mas não deixa de ser uma tentativa de coação. Mesmo cheios de gentilezas, alguns poucos gatos pingados, remanescentes do coronelismo, tentam, em vão, adoçar bocas. Ineficaz açúcar!
Entendo que críticas, quando não são vulgares e débeis, devam servir como mola propulsora de aperfeiçoamento, mas só os de espírito democrata são capazes de tirar proveito. Os de âmago autoritário insistem na coação, nem percebendo quão ridículos ficam quando a intolerância com a crítica sobrepõe-se à racionalidade dos atos.
As ações governamentais devem ser duramente criticadas pela imprensa para que a sociedade possa contrabalançar o bombardeio de propagandas institucionais que acabam confundindo ou iludindo a população.
Competência e respeito
Um jornal deve ir além da função de informar o leitor, deve fazer com que ele entenda as sutilezas dos fatos informados e o induza a pensar de forma crítica, assim construindo a sua opinião. Um jornal existe para incomodar governos e governantes, como disse Otavio Frias Filho (diretor da Folha de S. Paulo), ‘não importa se ele (governo) é bom ou ruim, incomodar é um dos poucos serviços públicos que a imprensa presta. E incomodar é interpelar, criticar, duvidar, ir contra a corrente’.
Coação pode até provocar efeitos, mas em profissionais letárgicos ou comprometidos com fins outros que não sua consciência e seus princípios. Como articulista, posso escrever a favor de algo, por concordar, mas nunca deixarei de escrever por pressão. Particularmente tenho por característica a teimosa mania de não me dobrar a coações. Confesso que tremi quando, iniciando uma coluna em jornal, criticando ou pressagiando os erros do programa Fome Zero, fui abordada de forma incisiva por Frei Betto, que de dentro da corte palaciana, como assessor do presidente da República, não aceitava ou não via os erros que eu via de fora. Hoje, mais escolada pelos turbilhões de críticas, adoro quando tenho o retorno crítico de alguma autoridade. Mostra que o meu objetivo teve efeito. Ah, hoje até Frei Betto vê os erros do governo de que participava.
Maquiavel, em seu livro O príncipe, aconselha o governante a se fazer temido como forma de impor respeito e transformar potenciais inimigos em amigos, porém, alerta que sempre será um aliado pro tempore. Aos navegantes, é mais seguro conquistar a partir de competência e respeito ao outro.
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Economista especializada em Administração Pública pela FGV–RJ e articulista da Gazeta de Cuiabá