Em 25 de março de 1940 nascia Anna Maria Mazzini, na pequena cidade de Busto Asizio (Lombardia). A família logo mudou-se para Cremona e, em 1958, Anna Maria, com o nome artístico de Mina, fez sua estréia como cantora. Pela garra que impunha às suas interpretações foi logo chamada de ‘tigresa de Cremona’. A carreira foi meteórica: em 1961 ganhou um programa na televisão, Studio Uno, que era até transmitido em videoteipe no Brasil pela antiga TV Record.
Dois anos depois, Mina cometeu o ‘grave pecado’ de ter um filho com o ator Corrado Rani, e este ser casado com outra mulher. A carolice hipócrita da Democracia Cristã que dominava a Itália exigiu que ela fosse despedida de seu emprego na televisão estatal.
Um ano depois, Mina volta triunfalmente à televisão. Mas num curto espaço de tempo é golpeada por duas tragédias: a morte do irmão e do marido, ambos em acidentes automobilísticos. Ela deixou a televisão em 1974 e apresenta-se ao público pela última vez em 1978, para comemorar os 20 anos de carreira. Depois disso, ninguém mais viu Mina. Em 2001, apresentou um concerto via internet, mas seu rosto não apareceu. Parece ter-se recolhido para não mostrar sua obesidade e degradação física.
Ciência e literatura
Mas desde 1978 Mina passou a escrever artigos para revistas e textos para a rádio, e publica todos os sábados no jornal La Stampa de Turim, pertencente à família Agnelli, também dona da Fiat. Sua coluna ocupa o lado direito superior da primeira página. No sábado 30/10, seu artigo teve o título ‘C’è una bestia che fa la plastica agli animali’ (Tem uma besta que faz plástica nos animais).
Mina se diz furiosa (e amargurada) com um cirurgião veterinário que faz operações plásticas em cães para torná-los menos velhos e mais bonitos. Este médico é um brasileiro que ela não diz o nome, em respeito ao país citado, mas a certa altura do texto o chama de ‘Pitanguy para animais’, o que é um desrespeito.
A cantora, como jornalista comete alguns erros graves: primeiro, não dá o nome do tal veterinário, pois coloca sob suspeita todos que exercem essa profissão no Brasil. Pedi a uma pessoa de confiança, dona de cães no Rio de Janeiro, que desse alguma informação sobre o assunto. Depois de três dias falando com clínicas, lojas de artigos para animais e canis, disse-me que ‘plástica em animais’ é ali um fato totalmente desconhecido.
Pior ainda foi o uso em forma pejorativa do nome Pitanguy. O professor Ivo Helcio Jardim de Campos Pitanguy não é um mero arrumador de narizes ou tirador de rugas em beldades e princesas; ele é um cientista de renome internacional, membro de dezenas de academias médicas espalhadas pelo mundo e, em hospitais públicos no Brasil, dedica-se a reconstruir pessoas que sofreram acidentes e queimaduras. É também um escritor que não escreve somente textos científicos, mas também publica literatura. Recomenda-se a Mina a leitura de Aprendendo com a vida, que foi traduzido para o italiano (Imparando com la vita – Mediamax, 1996, Milão).
Os ingratos
Se quiser defender os cães, a ‘colunista’ poderia muito bem começar pela Itália, onde milhares de cães são cruelmente abandonados por seus donos durante as férias de verão – por não ter onde deixá-los ou não querer pagar canis durante este período.
Há poucos meses aconteceu um fato emblemático. Um casal ia sair de férias e resolveu abandonar seu cachorro numa estrada bem longe de casa. Pararam o carro, deixaram que o saísse e foram embora. O animal passou a correr atrás do automóvel, o motorista aumentou a velocidade para livrar-se dele e acabou saindo da estrada e capotando. O dono morreu e sua mulher ficou gravemente ferida, presa às ferragens. Quando o socorro chegou, lá estava o fiel cachorro vigiando seus ingratos donos, que tinham sido castigados pela força destino.
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Jornalista