A reportagem de Antônio Gois e Luciana Constantino [‘Desmotivação é o que mais tira os jovens da escola’, Folha de S.Paulo, 7/1/2007] vem jogar luz, não somente nos sérios problemas da educação (falta de uma política educacional eficaz ou gestões baseadas em estatísticas que mais camuflam do que apontam problemas, demonstrando que o assunto deve ser analisado de modo global, relacionado também às questões econômicas e de saúde), como suscita outras abordagens, revelando indiretamente a razão da inapetência para a leitura entre os jovens, por exemplo.
Se não há estímulo sequer para o aprendizado básico, aquele que irá fornecer o suporte para o desenvolvimento do indivíduo (e do cidadão, no sentido mais amplo do termo), além dos estudos subseqüentes, o que se esperar em relação à formação de novos leitores (não só de livros, mas de jornais, revistas etc.)?
A falta de motivação aponta para a apatia, traduzindo-se numa incapacidade perniciosa de sonhar, resvalando na falta de perspectivas viáveis para que o jovem possa transformar seus sonhos em objetivos possíveis e realizá-los (senão todos, pelo menos alguns).
Dialogar e interagir
Culpar os jovens por tal herança de passividade (aliás, própria da cultura de massas) seria injusto, como igualmente o seria responsabilizar tão-somente os professores ‘chatos’ – vítimas também de uma gestão educacional inepta, que não lhes garante condições dignas de trabalho, de aprimoramento nem de salários, além da verticalidade de decisões no sistema e do caráter político de tais decisões.
A questão parece ser mais complexa do que parece. Aceitar-se sonhar com uma sociedade mais justa, requer também sonhar com uma ‘revolução’ pela/para a educação, abrindo várias frentes de batalha (com planejamento), dialogando e interagindo em diversos setores para dar o suporte necessário a transformações.
Envolver a sociedade
Estudar, para o jovem, nem sempre (ou nunca) é uma atividade fácil, divertida e que traz benefícios imediatos (talvez seja mais rápido inscrever-se num big brother qualquer), mas pode tornar-se uma atividade prazerosa, que resgate a possibilidade do sonho e a perspectiva de um futuro – e isso não se realiza sem se passar pelos livros, pela leitura. Portanto, qualquer política de fomento à leitura (ou incentivo ao livro e às editoras) também deve considerar, de maneira global, tais questões.
A reportagem referida levanta alguns desses aspectos – e deveria suscitar ampla discussão, pois afinal é esse o papel da imprensa: o de pôr em foco assunto tão importante e com tantos vieses a serem explorados e explicados (por mais incômodos que isso possa provocar).
Assim como as prioridades do crescimento econômico estão em pauta, certamente o tema da educação (e relacionados) deve e precisa envolver toda a sociedade – que a imprensa possa mantê-lo na ordem do dia.
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Funcionário Público, Jaú, SP